Eleições e cidadania
O processo eleitoral em 2002 representa um novo marco na história republicana do Brasil: as forças progressistas, lideradas pelo PT, disputam o poder com grandes chances de vitória já no primeiro turno, tendo por base um programa de governo que se propõe a redefinir os rumos do modelo de desenvolvimento e a construir, sobre novas bases, as relações entre a sociedade e o Estado.
Esse momento de grande expectativa na reta final de uma disputa que tem sido eletrizante nos coloca numa situação única. A hora iminente da virada traz consigo um sentimento contido de alegria, muito diferente do “grito parado no ar” há 13 anos atrás, quando foi destruído o sonho que estava quase ao alcance de nossas mãos, violentado o desejo de mudança que contagiara a nação e calada a emoção que tomara conta das ruas.
Para os metalúrgicos do ABC este momento tem um significado especial. É o desdobramento de um processo de resistência e de lutas que teve origem num passado mais remoto quando ousaram desafiar o poder dos militares, a questionar a intensa exploração a que estavam submetidos os trabalhadores e a exigir, junto com outras forças políticas, a democratização da sociedade.
Apesar dos avanços substantivos alcançados com a nova ordem institucional consagrada na Constituição de 1988, podemos afirmar que não conseguimos conquistar ainda a cidadania plena, entendida como conjunção de direitos civis, direitos políticos e direitos sociais assegurados, de fato, ao conjunto dos cidadãos. Não conseguimos, do ponto de vista formal, alargar as fronteiras desses direitos, aproximando-nos das sociedades democráticas mais avançadas, nem estender direitos fundamentais à grande parte da população, conferindo à cidadania uma dimensão real.
Esse será um dos maiores desafios do futuro governo. Esse será o grande desafio das forças sociais para quem o desejo de liberdade e de igualdade se coloca no horizonte tangível em que a democracia se torna a “reinvenção contínua da política”.