O ócio e o trabalho
No ano passado, o sociólogo italiano Domenico De Masi esteve no Brasil e fez algumas importantes palestras, inclusive aqui no ABC. De Masi é um estudioso que defende a idéia de que, no mundo contemporâneo, é importante valorizar o tempo livre do trabalho, o ócio. Literalmente, o significado de ‘ócio’, de acordo com o dicionário da língua portuguesa, é descanso do trabalho, folga, repouso, tempo que se passa desocupado.
De acordo com o sociólogo, não é necessário trabalhar mais que seis horas por dia; horário fixo na empresa é bobagem; todos poderiam trabalhar em casa e é essencial aproveitar o tempo livre. São idéias interessantes, que devem ser discutidas, especialmente diante da série de rápidas mudanças impostas pela reestruturação produtiva. Mas, convém lembrar que De Masi é também consultor de empresas o que nos deixa em alerta quanto à preocupação da apropriação do ócio do trabalhador pelo meio industrial.
A grande dúvida é o que fazer com as horas disponíveis já que a tecnologia e toda essa modernidade atual colaboram para que sobre mais tempo livre, além da expectativa de vida que tem se alongado nos últimos anos.
É claro que há opiniões divergentes quanto a esse assunto. A sociedade atual, por exemplo, não encara de forma positiva a ociosidade. Num mundo cada vez mais competitivo, e onde o emprego passou a ser elemento raro, tende a haver uma postura psicosocial crítica ao ócio.
O que precisamos ter em mente é que antes de tudo o trabalhador, ou qualquer indivíduo, precisa ter condições básicas para um “ócio sadio”. Isto significa ter direito e acesso à renda, educação, lazer e cultura. Sem isso, e com o fantasma do desemprego cada dia mais assustador, a tendência é a criação do “ócio destrutivo” e com ele a imagem de um futuro tenebroso.
Vê-se assim o quão distante nosso País está deste debate atualmente em curso nos países do primeiro mundo.