Fechamento de fábrica: o exemplo de Feliz

Uma cidade chamada Feliz, no Rio Grande do Sul, é um bom exemplo de como o fechamento de empresas pode afetar a vida de uma comunidade e de toda uma região. Segundo matéria da Folha de São Paulo, de 18 de outubro de 1999, a cidade detinha em 1998 o maior Índice de Desenvolvimento Humano no Brasil, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

De acordo com a ONU, a cidade fazia parte daquele pequeno grupo de áreas do planeta que possuem alto desenvolvimento humano. Em 1998, a renda per capita de Feliz era de R$ 5.343,00. Havia somente cinco famílias que podiam ser consideradas ‘pobres’. O desemprego era de apenas 2,2% da população, isto é, 247 pessoas desempregadas entre seus 11 mil habitantes. A mortalidade era de 5,9 crianças por mil nascidos (média próxima a da Alemanha, que é de 5, e muito menor que a média do Brasil, que é de 36). A expectativa de vida na cidade era de 72,5 anos (contra 66,9 de média nacional). Não havia analfabetos.

Tudo era felicidade em Feliz, até que um dia a Parmalat decidiu fechar sua fábrica, demitir 153 funcionários e se transferir para Carazinho, também no Rio Grande do Sul. Com isso, a queda de arrecadação de ICMS esperada era de 36%. Antes já havia ocorrido o fechamento da Antarctica, que resultou na demissão de semelhante número de trabalhadores e na queda da arrecadação do ICMS em cerca de 24%.

Outras atividades importantes para a cidade foram afetadas. O Festival do Chope, por exemplo, que ocorre na cidade há mais de três décadas e era apoiado pela Antarctica, foi bastante reduzido do seu tamanho tradicional.

Habitantes de diversos municípios brasileiros estão passando por problemas semelhantes a estes. O anúncio do fechamento da Brastemp nos leva a questionar sobre exemplos da cidade de Feliz. Está na hora da sociedade discutir medidas que possam aliviar as perdas geradas por saídas de fábricas da região. Afinal, a comunidade não pode ser responsabilizada por estas decisões, tampouco arcar com tantos prejuízos.