O verdadeiro herói

Henrique estava muito bravo. Sua professora havia pedido para que fizesse uma pesquisa a respeito do salário mínimo. Era um trabalho que ajudaria na nota do semestre. Justo hoje que passaria um filme na TV com seu herói preferido. Ouvia sempre seu avô reclamando do salário que recebia como aposentado. Mas no que este assunto poderia interessar a ele se nem mesada recebia?

Foi à biblioteca e descobriu coisas interessantes. Descobriu que o salário mínimo foi instituído em 1940 no governo de Getúlio Vargas. Durante um longo período, cada estado tinha um salário mínimo e Comissões de Salário Mínimo Estaduais e paritárias eram responsáveis pelos cálculos que deveriam subsidiar os reajustes. Estas comissões podiam nomear subcomissões que, por sua vez, optavam por valores diferenciados dentro de um mesmo Estado. Com isso, chegou a haver 51 salários mínimos diferentes em todo o país. Após 1964, as comissões foram extintas. Pouco a pouco, o salário mínimo foi unificado por regiões geográficas, até chegar a um só, em 1984.

No ano de 1943, o salário mínimo foi reajustado duas vezes para recompor o poder de compra corroído pela inflação. Depois disso, o valor do mínimo permaneceu congelado até 1951, embora a lei previsse correções em períodos não superiores a três anos. Henrique ficou curioso para saber como estava o salário mínimo hoje.

Pesquisando material mais atual, verificou que o salário mínimo sofreu reajuste recentemente. Passou de R$ 151,00 para R$ 180,00 e que, segundo documento do Dieese, o salário mínimo no mês de fevereiro de 2001 correspondia a 25,04% do salário mínimo de julho de 1940, mês em que foi instituído.

Só então percebeu porque seu avô reclamava tanto do salário que recebia como aposentado. Fez alguns cálculos e não conseguiu entender como ele conseguia sobreviver com um salário tão miserável. Às vezes ele ainda lhe dava algum dinheirinho para poder comprar revistas em quadrinhos de heróis. Ficou envergonhado. O verdadeiro herói morava em sua casa.