Mudança de hábito

Teve início nesta semana o racionamento de energia elétrica. Depois de muita polêmica a população se vê realmente diante desta realidade. Além da indignação e da perplexidade dos brasileiros diante do anúncio do desconhecimento da gravidade da crise pelo governo, convive-se agora com a preocupação constante e diária da poupança de energia elétrica.

A crise mudou os hábitos de todos os brasileiros e isso tanto pode ser bom como também pode ser ruim. Há alguns meses, quem poderia se imaginar apagando lâmpadas desnecessárias, prestando atenção em certos desperdícios que antes eram tão comuns? Tudo bem! Sabemos que velhos hábitos não mudam de um dia para outro, mas todos têm tentado mesmo que a contra gosto.

E os reflexos destas mudanças já podem ser sentidos de diversas formas. Primeiro, o racionamento afetou a paz doméstica. É consenso nas famílias de que é necessário cortar 20% de energia. O difícil é como, o que e quando cortar. E o conflito está gerado. Ninguém quer abrir mão de hábitos dos quais estão acostumados.

De modo negativo, as mudanças começam a refletir no comércio, que vê a venda de eletrodomésticos cair dia após dia; afinal de contas, qual consumidor atualmente pensará em comprar um eletrodoméstico se não poderá usá-lo? E como ficará o setor de eletroele-trônicos? Se não há consumo não há produção, se não há produção o nível de desemprego pode ser agravado.

De certa forma o país também está fazendo uma viagem ao passado. De acordo com um texto divulgado pela internet no site do Jornal Nacional/Rede Globo, em 1925 o escritor Monteiro Lobato já se queixava da crise energética que atingia o país. Em carta escrita a um amigo ele dizia: “… A crise de energia elétrica da Light vai nos dar um tombo, mas há de ser um tombo passageiro. Breve estaremos em pé. Em um ou dois anos ninguém falará mais no caso…”.

Pois é, passados 76 anos o país vive a mesma situação. Essa é a hora de refletir sobre o assunto. O governo deve fazer sua parte investindo em geração de energia hidroelétrica e alternativa (solar, aeólica etc.), mas cabe a nós, cidadãos, retomarmos com mais afinco a velha discussão sobre a valorização do meio ambiente e a preservação dos recursos que ele nos oferece. Afinal, percebe-se nos dias atuais que estes recursos não são infindáveis.