Compromisso do Sindicato é com trabalhadores
Entrevista com Luiz Marinho, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC
Como está o governo Lula nestes primeiros dias?
Ainda é muito cedo para uma avaliação, pois as equipes ainda estão sendo formadas. Posso dizer que o Ministério é de primeira grandeza e que minhas expectativas são as melhores.
Mas já tem trabalhador criticando declarações de ministros…
Isso vai acontecer a todo momento. Acredito que vamos ter problemas, mas são bons problemas. Se o Serra fosse presidente, aí sim teríamos um monte de problemas ruins.
E o Sindicato e a CUT, que apoiaram Lula, não vão perder sua autonomia?
O compromisso da CUT e do Sindicato é com os trabalhadores. O papel do Sindicato é corporativo, de defender os interesses dos metalúrgicos, e vamos continuar com essa função.
Mas agora não somos governo?
O PT é governo. Nós não somos. Nós apoiamos esse governo, pedimos votos para um projeto que defendemos há anos e queremos ver implementadas as mudanças que o Brasil precisa.
O ministro da Fazenda disse que a tabela do Imposto de Renda não será corrigida.
A não correção da tabela é uma forma indireta de achatar o poder aquisitivo do trabalhador. Se a decisão for essa, o ministro precisa dizer o por quê, ao mesmo tempo em que avisa quando e em quanto vai fazer a correção. De nossa parte, vamos pressionar pela correção do Imposto de Renda, como fizemos nos governos anteriores. A diferença é que neste governo poderemos encontrar canais de negociação para discutir o problema.
Mas a responsabilidade do Sindicato e da CUT são maiores agora.
Vamos ser cobrados pela proximidade com o governo Lula. A CUT e o Sindicato devem manter sua autonomia, pois temos papéis a desempenhar.
As reivindicações vão continuar?
O movimento sindical tem papel reivindicativo, mas temos a responsabilidade de apresentar alternativas e sugestões. Durante a campanha, o presidente Lula recebeu nosso plano de metas para o setor automotivo e agora queremos discuti-lo com governo e empresários. E não só isso, mas todos os temas que refletem diretamente na vida do trabalhador, como a Previdência.
O Brasil vai retomar seu crescimento econômico?
Esperamos do governo Lula um comportamento diferente dos outros. No governo FHC não tivemos qualquer espaço, nem mesmo nos momentos de crise. Acredito que o governo Lula abra a possibilidade do trabalhador ajudar na elaboração das várias políticas.
A reforma sindical vai acontecer agora?
Essa reforma depende mais do movimento sindical do que do governo. A mudança passa pela liberdade de sindicalização do trabalhador, pelo fim do imposto sindical e na definição do papel da Justiça do Trabalho. Para tanto, é preciso que as centrais sindicais se entendam. Temos de trabalhar as mudanças, apresentar projetos e lutar por eles.
O Sindicato vai pagar o preço de ter apoiado a candidatura Lula?
Não estamos pagando nenhum preço. Estamos, na verdade, colhendo os frutos das propostas e lutas feitas há anos, de o País ter um governo com preocupações sociais e projetos voltados ao desenvolvimento econômico e social.
O governo Lula será bom?
O governo Lula veio para mudar a história do nosso País. A sociedade está com um sentimento de mudança muito grande e cada um precisará dar sua parte.
Neste governo temos um canal direto com o presidente e vamos usá-lo para defender os interesses dos metalúrgicos e da nossa região.