Venezuela: A história de um golpe sujo

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, sofre campanha comparável às movidas contra João Goulart no Brasil, em 1964, e Salvador Allende no Chile, em 1973. Como no Brasil e Chile, a oposição na Venezuela são as elites, os Estados Unidos e os meios de comunicação.

Pelo que chama de revolução bolivariana, Chávez quer promover reformas que diminuam o abismo entre pobres e ricos. Mas os endinheirados e os EUA perderiam alguns privilégios. Os Estados Unidos estão de olho no petróleo do país.

Assim, as elites apóiam e sustentam a distorção dos fatos praticada pela mídia venezuelana, cujas informações são reproduzidas no Brasil. Todas as cinco redes nacionais de rádio e TV e seis dos sete principais jornais fazem este papel sujo e pregam abertamente a derrubada do presidente.

Justamente para evitar mais um golpe, o presidente Lula teve a iniciativa de juntar seis países das Américas do Sul, do Norte e da Europa, com opiniões diversas sobre Chávez, e formar o Grupo de Amigos da Venezuela. O grupo realiza amanhã sua primeira reunião com o propósito de atuar na mediação da crise.

De golpista a presidente – Em fevereiro de 1992, Chávez – na época tenente-coronel pára-quedista – surgiu para a opinião pública ao liderar uma tentativa de golpe. Derrotado, pegou dois anos de cadeia e aprendeu a lição. Em 98, foi eleito presidente por ampla maioria de votos, prometendo combate à corrupção e à pobreza.

Cumpriu a palavra e enviou ao Congresso Nacional – que aprovou – leis moderadas de reforma agrária, aumento de impostos das empresas petrolíferas, de limite à pesca em escala industrial e que colocam alguma ordem no império intocado da mídia.

Essa seria a revolução bolivariana, mas as elites não aceitaram e Chávez não conseguiu dialogar com seus oposito-es. A opinião pública do País rachou ao meio.

Por trás, as elites – Contra o presidente está o poder econômico: os magnatas do petróleo e todo o empresariado ligado ao setor. O produto domina 80% da economia e a força deste pessoal é imensa. A mídia mobiliza contra Chávez quem tem algum dinheiro na Venezuela.

Junto com o presidente está a maioria da população. Os pobres, os moradores da periferia que não participam do banquete do petróleo e a oficialidade militar média. Só que estes setores tem pouco poder econômico.

Em 2002, cai a máscara – A oposição venezuelana mostrou o que pretende em de abril de 2002, quando parte do empresariado e dos oficiais das Forças Armadas deram um golpe. Alegaram que defendiam a democracia e instalaram a ditadura.
Os golpistas colocaram na presidência o patético empresário Pedro Carmona. Ele dissolveu o Congresso, fechou a Suprema Corte e cassou mandatos. Era a ditadura.

Dois dias depois, a população acabou com o golpe em um dos mais belos episódios da história da América Latina.

Só que os golpistas não desistiram e mudaram de tática. Passaram a defender um plebiscito em fevereiro para definir a permanência ou não de Chávez. Ele concorda com a consulta em agosto, como determina a Constituição.

Apesar de ter razão, novamente o presidente não soube negociar. E, graças a mídia, a imagem que passa é de um Chávez intransigente contra uma oposição democrática.

A Suprema Corte suspendeu temporariamente a questão ao manifestar-se contra o plebiscito em fevereiro.