Ocupação em São Bernardo: Trabalhador na Volkswagen, Sindicato e CUT pedem preço social
Cópia do documento que solicita à Volks a fixação de um preço social ao terreno ocupado pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) em área da montadora em São Bernardo foi passada ontem por Wagner Santana, o Wagnão, vice-presidente do Comitê Mundial de Sindicalistas da Volks e coordenador do Comitê Sindical em São Bernardo, a João Batista, o Jota, coordenador estadual do MTST e um dos responsáveis pelo acampamento.
“Tendo em vista que este terreno foi colocado à venda há muito tempo e não foi vendido, gostaríamos que fosse fixado um preço social para esta área de modo a favorecer o encaminhamento de uma solução socialmente responsável em lugar da desocupação forçada”, afirma o documento.
Além de Wagnão assinam o presidente do Sindicato, José Lopez Feijóo; e o presidente nacional da CUT, Luiz Marinho. O documento foi enviado a Alemanha para Peter Hartz, vice-presidente mundial e responsável pela VW na América Latina.
Hartz participa de reunião hoje entre sindicalistas e representantes da montadora, em Taubaté onde será cobrado pelo documento.
“Fartura, farta tudo”
Uma das responsáveis pelo acampamento, Iracema Mendes da Silva, a Aninha, afirma que o ânimo por lá melhorou após a extrema tensão que passaram com a ameaça de despejo. Mas a sobrevivência continua precária. Existe apenas uma torneira e um banheiro para as mais de oito mil pessoas no local. A comida é feita em improvisados fogões a lenha, quando existe alimento, pois falta feijão, arroz, leite, óleo, farinha etc. “É uma fartura, farta tudo”, tenta brincar Aninha.
Também não há remédio nem eletricidade. Todos os ofícios enviados à Prefeitura e ao governo do Estado pedindo auxílio tiveram resposta negativa.
Luz no fim do túnel
O mecânico Valdir Franco do Prado, de 39 anos, desempregado há quatro anos, vive de bicos. Bem articulado, trabalhou na GKW e na Pirelli Cabos, onde conheceu o atual prefeito de Santo André, João Avamileno.
Divorciado, morava “de favor” com a mãe e duas filhas na garagem de um amigo. “Tenho 2º grau completo, morava de aluguel e fui auxiliar de departamento pessoal. Depois desandou. Agora vejo uma luz no fim do túnel nesta luta aqui no acampamento, a esperança de voltar a ter uma vida digna. Para isso é importante criar raiz, deixar de ser jogado de um lado para o outro. Ter um local para morar e viver em comunidade, nos dá amor próprio”.
“Só saio morto daqui”
O segurança José Antonio da Silva, de 28 anos, está no extremo oposto. Com dificuldade de expressão, sabe apenas ler e escrever o próprio nome, votou no atual prefeito, William Dib, fato que se arrepende. Seu último emprego durou quatro anos em um posto de gasolina que faliu e ele não recebeu os direitos. Nem vai: o ex-patrão está preso. Casado, dois filhos, José tem certeza apenas de uma coisa: do acampamento só sai morto. “Vim para cá no primeiro dia, pois não aguentava mais humilhação na casa de minha cunhada, e daqui só saio para o cemitério. Não fiz nada para ser preso: não matei, não roubei e confio nas autoridades. Agora tenho minha casa”.