Patrões declaram guerra ao projeto
Os patrões declararam guerra contra a reforma sindical encaminhada pelo governo federal ao Congresso Nacional. Em reunião mantida na Fiesp, eles decidiram não negociar os pontos sem consenso no projeto e vão montar uma estratégia para detonar a iniciativa, revelou o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, Paulo Safady Simão.
Ele recebeu o apoio imediato do presidente do Sindipeças, Paulo Butori, para quem “estão querendo instalar a república sindicalista no Brasil”. “O lado de lá é muito mais forte, porque junta o governo e as grandes centrais sindicais. Os empresários já começam o jogo perdendo por dois a zero. Se abrirmos negociação pode ser pior. Esta reforma precisa esperar outro governo”.
Preconceito de classe
Maior empresário do setor siderúrgico do País, Jorge Gerdau Johannpeter, que faturou R$ 3,2 bilhões no ano passado, foi outro que bateu forte. “Este poder para os sindicatos não existe em lugar nenhum, é inaceitável”, afirmou. “Precisamos trabalhar para ter um operário valorizado e não politizado”, completou.
Isto é, na opinião de Johannpeter, trabalhador serve para apertar parafusos mas não pode lutar por seus direitos. O deputado federal Armando Monteiro Neto (PTB-PE), presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e co-patrocinador do encontro, vai pelo mesmo caminho.
“O poder ampliado dos sindicatos trará a exacerbação dos conflitos na relação entre capital e trabalho. Já temos problemas demais na área tributária e macroeconômica. Não precisamos de mais complicações”, afirmou.
No escanteio
Isto é, para o presidente da principal entidade patronal do Brasil, sindicato forte é problema e trabalhador deve obedecer bem quietinho. Afinal, por este raciocínio, os empresários têm problemas demais como impostos e as decisões da economia.
Durante o encontro, os patrões declararam que não aceitam de jeito nenhum a obrigatoriedade de representação sindical em empresas com mais de 30 trabalhadores e nem a substituição processual, isto é, o sindicato representar o trabalhador em processos na Justiça mesmo sem ter autorização para isso.
Querem precarizar
Os empresários criticaram bastante a decisão do governo em fazer primeiro a reforma sindical e só depois a trabalhista.
Decisão, aliás, tomada pelo próprio presidente Lula, por entender que é necessário fortalecer primeiro as entidades representativas dos trabalhadores para só depois enfrentar os patrões. Só que tratar a reforma sindical de forma separada da trabalhista era tudo o que as entidades empresariais não queriam.
Alguns sindicalistas também
Não são só os patrões que declararam guerra contra a reforma sindical. Sindicalistas ligados à Central Geral dos Trabalhadores, PSTU e outras correntes, praticamente impediram o ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, de expor o projeto na Comissão do Trabalho da Câmara Federal, na última quarta-feira.
Com vaias, xingamentos palavras de ordem contra a reforma e gritos de pelego e vendido, a platéia de sindicalistas que se opõe à reforma tumultuou a sessão, que só não foi suspensa por interferência de alguns deputados.
“Esse comportamento truculento não é novidade, nem esperava que fosse diferente”, afirmou Berzoini após a sessão.
“São minoria no movimento sindical que existe de fato, não chegando a representar 15% dos trabalhadores”, completou o ministro.