Deficiência visual: A Globo acerta na abordagem?
Jatobá e Maria Flor, personagens da novela América, da TV Globo, são deficientes visuais, mas isso é a única coisa que eles têm em comum.
Jatobá, vivido por Marcos Frota, perdeu a visão na juventude e soube superar a perda.
O caso de Maria Flor, personagem da menina Bruna Marquezine, é bem diferente. Perdeu a visão quando ainda era bebê e não faz a menor idéia do que é enxergar. Portanto, não enfrentou a dor psicológica dessa perda.
Jatobá navega pela internet, paquera, trabalha e se dedica ao atletismo, entre outras atividades. Tem uma vida normal, mesmo com limitações. “Mas quem não tem limitações?”, costuma dizer. Entre as dificuldades típicas Jatobá pena com o projeto urbanístico da cidade, que dificulta sua locomoção.
Outro empecilho é o desconhecimento geral da população sobre como tratá-lo. Sem falar na dificuldade de encontrar emprego, por conta do preconceito no mercado de trabalho.
O problema maior de Maria Flor é o fato de sua mãe, Islene, interpretada pela atriz Paula Burlamaqui, não ter informação alguma sobre como criar uma pessoa com deficiência visual. Em vez de proporcionar à filha acesso a instituições especializadas, Islene a escondeu do mundo.
É por isso que Flor não sabe ler e não tem convívio social. Sua mãe não a deixa dar sequer um passo sozinha. Flor não sabe que é capaz de estudar, ter amigos e andar sozinha pela rua.
Abordagem certa
Sebastiana Aparecida Borim, mãe dos jovens Jeferson e Ricardo, ambos com deficiência visual, considera que a novela acerta na abordagem do tema. “Conheço muita gente que se comporta como a mãe da menina, que esconde os filhos talvez por vergonha ou ignorância. Isso mostra que o preconceito nasce na própria família”, diz.
Quanto ao papel de Jatobá, Sebastiana afirma que na realidade nem tudo é tão fácil como é para o personagem. Porém, classifica como positivo a novela mostrar que as pessoas com deficiência podem ter uma vida normal.
“Foi assim que fizemos com nossos filhos (os dois são músicos profissionais e Jeferson é professor de música). Eles só não fazem o que não querem”, afirma.
Para o conferente Pedro de Oliveira, trabalhador com deficiência visual na Mercedes-Benz, é a primeira vez que uma novela da Globo trata o tema com seriedade. “Ajuda a quebrar o preconceito, ensina as pessoas a lidar com situações para as quais não estão preparadas”, assinala Pedro, que também destaca o papel da mãe da menina Maria Flor como uma realidade.
O aprendizado que a novela oferece para que as pessoas consigam lidar com situações envolvendo pessoas com deficiência é ressaltado pela costureira Aparecida Ferreira, que não convive diretamente com essa realidade. “O que me chama a atenção é a novela abordar a dificuldade que as pessoas com deficiência enfrentam para circular nas ruas. Esse é um problema grave”, destaca Aparecida.
Ela lembra que recentemente, no trem, um deficiente visual lhe pediu ajuda e ela lhe deu o braço. “Ele me disse que tinha mais segurança ao se apoiar no meu ombro. Fiquei meio sem jeito, mas percebi que isso aconteceu por causa da falta de informação que tenho sobre como lidar com a situação”, contou.