Miguel Arraes: Morre uma liderança popular
A morte do ex-governador Miguel Arraes colocou fim num dos últimos líderes populares do País, referência entre os camponeses nordestinos e um mito da esquerda brasileira.
Três vezes governador de Pernambuco, Arraes foi perseguido pela ditadura militar por desenvolver políticas voltadas à camada mais pobre da população.
Ele assumiu o governo pernambucano pela primeira vez em 1963 e conseguiu negociar com os usineiros o chamado Pacto do Campo.
Esse acordo garantiu os direitos trabalhistas aos camponeses, inclusive o pagamento de um salário mínimo, mesmo durante a entressafra da cana-de-açúcar.
Esse primeiro contrato coletivo de trabalho no campo provocou uma revolução trabalhista e marcou toda a trajetória política de Arraes.
Por seu intermédio, o método Paulo Freire foi adotado nas escolas de Pernambuco. Ele estimulou a organização nas favelas e foi um dos poucos que negociou com Francisco Julião, liderança máxima das Ligas Camponesas.
Ele foi deposto no dia seguinte ao golpe militar e passou 14 anos no exílio na Argélia.
Com a anistia, Arraes volta ao Brasil em 1979, mas os tempos já eram outros, com a ascenção de Lula como liderança nacional. Mesmo assim, seu discurso regional voltado aos pobres garantiu o governo de Pernambuco por mais duas vezes.
Em seu mandato entre 1986 e 90, pelo PMDB, ele criou vários programas populares, entre eles o Vaca na Corda e Água na Roça.
Em 1998 foi eleito novamente governador, desta vez pelo PSB. Arraes perdeu a disputa pela reeleição e, em 2002, foi eleito deputado federal.