Armas de fogo causam metade das lesões que levam à deficiência

Pesquisa da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) revelou que as balas disparadas pelas armas de fogo são a principal causa de lesão medular em pacientes que procuram os centros de reabilitação da instituição.

Segundo a AACD, que atua em quatro estados brasileiros, 41% das lesões medulares de pacientes em São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Pernambuco, durante o ano passado, foram causadas por armas de fogo.

Não há defesa

Em 1985, de acordo com a instituição, 45% dos casos de lesão medular traumática eram decorrentes de acidentes de trânsito e 25% causados por arma de fogo. Já em 1995 esse percentual subiu para 38% e, em 2002 e 2003, ficou em 46%, perto da metade dos casos.

O matemático e técnico em eletrônica Marco Antonio Pellegrini, 41 anos, é uma das vítimas de arma de fogo. Foi baleado num assalto quando chegava em sua casa em julho de 1991.

Um tiro atingiu um dos braços e outro destruiu duas vértebras próximas ao pescoço. Ficou paraplégico e hoje trabalha como analista de projetos de telecomunicação no Metrô. O acidente mudou sua idéia sobre segurança e porte de arma de fogo.

“Até isso ocorrer comigo, andava armado e tinha treinamento de tiro. Para mim era segurança e a minha educação nunca permitiria atirar em alguém”, lembra Pellegrini.

Hoje mudou de idéia. “Se tivesse tirado a vida de alguém seria tão duro me recuperar como foi minha recuperação como vítima. Depois da saúde, há a recuperação da vida social e de minha vida como homem”, diz ele.

Além deste argumento, Pellegrini destaca que é bobagem a sensação de segurança que uma arma propicia. “O bandido é covarde. Ele não te dá chance de defesa”, ensina.

Estatística dessa violência

A Unesco colocou o Brasil como o primeiro país na lista de mortes por armas de fogo no mundo. Cerca de 40 mil pessoas morrem a tiros, a maioria jovens.

A Organização Mundial da Saúde estima que os gastos com problemas de saúde relacionados à violência no Brasil chegam a cerca de R$ 30 bilhões ao ano.

Em 2002, o SUS gastou perto de R$ 140 milhões para tratar de feridos por armas de fogo.

Pesquisa do Hospital Universitário Cajuru de Curitiba (PR) mostra que o tratamento das vítimas de armas de fogo custa, em média, R$ 2 mil por paciente.

Fontes: Revista Sentidos, Desarme, OMS, O Globo e Correio Popular.