Prefeitura de São Bernardo ameaça mais de 160 famílias do Jardim Itatiba

Desde o final de maio, moradores da favela no Jardim Itatiba, como o casal Edna e Edvaldo, vivem o medo de perder suas casas e não ter para onde ir. A Prefeitura quer 166 famílias fora do local e diz que vai reurbanizar a área.

Moradores do Itatiba querem melhorias e não
desapropriação

População do bairro pede apoio à sociedade, já que não tem para onde ir e
em alguns casos não há nem opção de alojamento

Indignação e angústia. Esses são os sentimentos presentes na rotina dos
moradores da favela localizada no Jardim Itatiba, no final da rua dos Vianas, em
São Bernardo, desde o final de maio, quando a Prefeitura anunciou que as 166
famílias ali residentes devem deixar o local para reurbanização da área.

Organizados em comissão, eles já realizaram protesto na Câmara para pedir o
apoio dos vereadores e da sociedade, pois não têm para onde ir, e a Prefeitura
deveria dar início à desocupação hoje. Muitos estão ali há mais de 30 anos, onde
construíram suas casas e criaram seus filhos. “É lógico que queremos melhorias,
mas não dessa forma. Para os que não se cadastraram após 1997, a Prefeitura não
oferece nem mesmo a opção de um alojamento”, explica o representante da Comissão
de Moradores, Luiz Monteiro da Silva, 44 anos, há 24 morador no Itatiba.

Segundo Luiz, a Prefeitura, com recursos da Fundação Salvador Arena, afirma
querer reurbanizar o local com a construção de habitações que abrigariam apenas
os cadastrados antes de 1997 e moradores de outras regiões da cidade que
aguardam por uma moradia. Os não-cadastrados simplesmente teriam de se virar na
casa de parentes ou amigos. Entre os habitantes da favela, porém, a informação é
de que a mudança beneficiaria o cemitério localizado ao lado, que ganharia área
para estacionamento e novas portarias.

Famílias estão em pânico

“Vivo aqui há 31 anos, criei meus filhos e meus netos. Minha família tem 10
pessoas, e como muitos da favela, estão desempregados. Ganho um salário mínimo
por mês; como posso mudar?”, questiona o pernambucano José Bezerra Lima, 66
anos, que sofre de problemas cardíacos. Como vários moradores, José lutou para
construir sua casa e participou das melhorias feitas pelos próprios
moradores.

“Estamos em pânico, é dia e noite pensando nisso”, conta Lenice da Silva, 38
anos, mãe de três filhos.

“A gente não tem como sair daqui”, destaca Nádia Oliveira Lima, 20 anos, mãe
de Pedro, de cinco meses.

“Querem nos mandar para outro local e deixar as crianças longe da escola e os
pais longe de seus empregos. Não dá para aceitar”, destaca o desempregado
Aristeu Gonçalves Fontes, que ontem auxiliava a sobrinha, Ana Paula, portadora
de deficiência física, a ir para a escola.

“É claro que precisa melhorar. Mas simplesmente colocar as pessoas na rua não
é solução. Por isso queremos todos nos unir,  cadastrados ou não. E
precisamos do apoio de todos”, ressalta o representante da Comissão, antecipando
que nova reunião deveria ser realizada hoje com os representantes da
Prefeitura.

Política do abandono

Essa não é a primeira vez que moradores de São Bernardo se vêem na iminência
de ter de abandonar suas casas. No início do ano, o prefeito Dib mandou derrubar
oito casas no Alvarenga. As demolições foram  ilegais, já que não havia
ordem judicial que determinasse a ação. Na época, os moradores do Alvarenga se
mobilizaram e conseguiram que os vereadores da cidade aprovassem requerimento
exigindo da Prefeitura o fim das demolições .

Moradores de outros bairros também foram atingidos, como os do Jardim
Lavínia. A opção de alojamento, na verdade, apenas reforça a política de
abandono da Prefeitura, já que ficam distantes de escolas e dos locais de
trabalho e em áreas de baixa ou nenhuma infra-estrutura. “A reivindicação é que
a Prefeitura crie uma política habitacional que respeite os direitos destes
cidadãos, ao invés de mandá-los para depósitos improvisados ou para baixo dos
viadutos”, salienta Paulo Dias, diretor do Sindicato.