Volks ameaça futuro profissional de jovens
Plano de reestruturação da montadora determina que alunos formados pelo Senai não serão contratados.
Volks destrói sonho de futuro profissional
A esperança de construção de uma carreira profissional para 32 jovens que concluem hoje seus estudos no Senai da Volks sofreu um sério abalo. O plano de reestruturação da montadora descartou a contratação dos recém-formados, prática adotada nos últimos anos.
Para mostrar a indignação contra a medida, os 120 alunos do Senai, incluindo os 32 que se formam, fizeram um protesto ontem pela manhã. Por duas horas, eles promoveram um apitaço em várias áreas da fábrica e realizaram um ato em frente à sala de Relações Trabalhistas, onde entregaram pauta reivindicando a contratação. “O que esses meninos mais querem é trabalhar”, disse José Roberto Nogueira, o Bigodinho, da Comissão de Fábrica.
Plano – “Com a minha efetivação pensei que poderia entrar na faculdade de administração de empresas, conseguir uma vaga na área e fazer minha carreira aqui na fábrica”, descreve Juliane Andrade Rocha, de 17 anos, formada em técnica de mecânica industrial e que cursa o terceiro ano colegial.
“Agora, terei de procurar um cursinho e tentar o vestibular numa faculdade pública”, planeja. Segundo ela, sem emprego, não tem condição de pagar o curso de administração.
Foi esse mesmo caminho que Raphael Lima Pereira havia planejado para sua vida profissional. Ele concluiu o curso de técnico de sistema integrado de manufatura e imaginou que poderia cursar engenharia elétrica. Diz que desenvolveu a aptidão no setor de armação nos estágios que fez durante o curso.
Choque – “Quando soube que não seria efetivado tive uma sensação de ter nadado e morrido na praia”, reclama Raphael. Ele afirma estar desmotivado porque perdeu a crença no que acreditava que seria seu futuro.
Juliane lembra que teve um choque quando recebeu a notícia. “Estava feliz. Em toda a turma a expectativa era da efetivação”, comenta. Para ela, a não efetivação é um contrasenso da fabrica pois, se quer aumentar seu lucro, a Volks deveria aproveitar a mão de obra formada.
Dalva Soares, mãe do garoto Gustavo, soube da notícia pela mãe de um outro aluno. Para não desapontar a mãe, Gustavo confessou não ter tido coragem de lhe dizer que não seria contratado. “Me senti traída pela Volks por meu filho não conseguir realizar o sonho que idealizou”.
Assim como seus dois outros colegas, Gustavo pensa em prestar vestibular no final deste ano. “O início da vida profissional do meu fiho foi moldado pela fábrica, que criou todo o tipo de expectativa de uma carreira na empresa. Ela (a Volks) não tem o direito de alimentar esse tipo de sonho em uma criança e depois não realizá-lo”, desabafa.
Melancolia – Como em todo final de curso, os alunos programaram uma confraternização de formatura. Ela vai acontecer hoje à tarde, porém, sem a mesma animação de anos anteriores, prevê Bigodinho, da Comissão de Fábrica. “O plano de reestruturação da fábrica tirou o brilho da festa”, disse.