Iraque: Saddam volta ao banco dos reús. Faltam os outros.
O ex-ditador iraquiano Saddam Hussein voltou ao banco dos réus ontem, dois dias depois de ser condenado à morte na forca por um massacre contra xiitas, em 1982. Desta vez, voltou ao júri em um segundo caso, no qual é acusado de genocídio contra curdos.
Saddam retornou ao tribunal no mesmo dia em que os americanos iam às urnas para renovar o Congresso e eleger governadores de 36 Estados. As eleições são como um referendo sobre a política de George Bush no Iraque. Pesquisas indicavam que o partido Republicano, do presidente norte-americano, perderia as eleições.
Moral – A condenação de Saddam gerou reações pelo mundo. Favoráveis e contrárias. Algumas equilibradas, como o artigo do jornalista Robert Fisk.
Ele escreveu que “Saddam foi sentenciado à morte por crimes cometidos quando era o melhor amigo dos Estados Unidos no mundo árabe”. O jornalista lembra que durante o inquérito e o julgamento, Saddam foi proibido de comentar sobre as exportações de produtos químicos que EUA e Inglaterra faziam ao Iraque. A ameaça de uso das possíveis armas químicas iraquianas motivaram a invasão do País em 2003.
Para Robert Fisk, “a vida no Iraque é pior agora. Ou melhor, a morte é um destino mais frequente para mais iraquianos que nos tempos de Saddam. Por isso, não podemos alegar superioridade moral nenhuma ao condenar o ex-ditador. Nós apenas praticamos abusos sexuais contra prisioneiros, assassinamos alguns suspeitos e praticamos alguns estupros, além de termos invadido um país, o que custou ao Iraque 30 mil vidas, nos cálculos de George Bush. Não seremos levados a julgamento. Não seremos enforcados. Essa é a extensão do nosso cinismo. Em algum momento a justiça e a hipocrisia já estiveram unidas de forma tão obscena?”, pergunta o jornalista.