A Billings por um fio

O descaso do poder público permitiu a ocupação desordenada das margens da represa, o que está colocando em risco o mais importante manancial do ABC. Cerca de 4,5 milhões de pessoas na região e capital dependem da Billings para ter água potável.

A caminho do fim

A falta de uma política adequada por parte dos poderes públicos permitiu nos últimos 30 anos uma ocupação desordenada e irregular das margens da represa Billings. Hoje, 800 mil pessoas vivem ao seu redor. Desse total, 300 mil estão em São Bernardo.

Essa ocupação acarreta vários problemas. Um deles é a poluição das águas que abastecem 4,5 milhões de pessoas.

Outro problema é o desmatamento. Ele libera a terra para o leito da Billings e encobre as nascentes, o que reduz a produção de água.

Nos últimos 60 anos, a capacidade de produção caiu de 28 metros cúbicos de água por segundo para 12 metros.

Descaso estadual – “O que falta é vontade política para a preservação”, denuncia a advogada Carmen Patrícia Coelho Nogueira, da Comissão de Meio Ambiente da Ordem dos Advogados do Brasil.

Para ela, a ocupação vem da falta de políticas habitacionais para a população de baixa renda e da falta de fiscalização por parte do poder público.

Os governos estaduais nunca definiram uma política para a Billings.

O secretário estadual do Meio Ambiente, Xico Graziano, acha a represa não é prioridade. “Ela é apenas um reservatório poluído e não uma produtora de água”,disse.

O governador Serra tenta um financiamento para a represa, mas não sabe para quando.

De concreto sobre o meio ambiente, Serra disse que mandará 6 mil pessoas que moram ao redor da represa Guarapiranga para abrigos provisórios.

A professora Odete Metauar, especialista em Direito Ambiental, acha que essa não é o caminho. “É preciso uma política habitacional, pois o poder público não pode tirar as pessoas de suas casas e deixá-las amontoadas”, disse.

São Bernardo igual – Na região, entidades classificaram de superficial o projeto da Prefeitura de São Bernardo, que pretende gastar R$ 218 milhões com a criação de um centro de educação ambiental e de parques para proteger as nascentes.

“Não passam de decoração”, critica Virgílio Farias, do Movimento de Defesa da Vida.

Ele explica que o projeto não ataca a principal ameaça à represa, que é a ocupação irregular nas áreas de manancial. “O projeto também não prevê recuperação das áreas devastadas e ocupadas”, protestou Virgílio.