Debate: Não há igualdade racial nas relações de trabalho
Não existe igualdade racial nas relações de trabalho no Brasil, denunciam trabalhadoras na base.
Para debater o assunto e explicar quais ações podem ser tomadas contra o preconceito, a Comissão de Combate ao Racismo do Sindicato convidou o procurador do Trabalho Raimundo Simão para falar sobre As garantias legais para a igualdade racial nas relações de trabalho: o que diz a legislação?
O encontro será amanhã, às 15h, no Centro de Formação Celso Daniel.
Ana Nice Carvalho, coordenadora da Comissão, considera importante ouvir orientações sobre o tema para reivindicar na campanha salarial novas cláusulas sociais que combatam todo tipo de discriminação.
“Cresceu a participação dos afrodescendentes no mercado de trabalho, mas os negros continuam não ocupando cargos de chefia”, denuncia Ana Nice. “Não estamos preparados para estes postos ou existe preconceito com relação aos afrodescendentes?”, pergunta.
“O debate com o procurador vai pontuar as garantias dos negros que existem na legislação brasileira, nas convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e em outros acordos internacionais para conhecermos melhor nossos direitos e fazer com que eles sejam respeitados e cumpridos”, conclui Ana Nice.
Como a discriminação é sentida
Valéria da Silva, trabalha na produção: “Nunca fui discriminada porque não aceitaria. Brigaria feio processaria. Mas ocorreu com meu filho. Ele brincava com outras crianças, uma vizinha não gostou e foi reclamar. Entre vários garotos, ela apontou para meu filho e falou: seu macaco. Só não processei porque todas as testemunhas eram menores. Depois, com muita educação, coloquei as coisas em seus lugares. Agora, eu também não aceito gente que fica se lamentando, reclamando em um canto que não conseguiu emprego porque é negra. Tem que ir em cima, não pode abaixar a cabeça. Tem que amar sua cor. Eu amo minha cor”.
Rosa Maria de Souza, auxiliar de produção: “Nunca sofri discriminação, mas sei que existe. Fui testemunha quando acompanhei uma amiga em busca de emprego numa loja. Quando chegou a vez dela, disseram que as vagas tinham acabado. Em seguida apareceu uma menina e conseguiu o posto. Minha amiga é negra, a menina era branca. Minha amiga se abateu mas foi à luta e conseguiu emprego em outra loja. Só que ficou traumatizada e sofre com esta discriminação até hoje. Não é possível aceitar algo assim. É preciso aumentar as campanhas de conscientização mostrando que todos são iguais. Esse aprendizado deve começar na escola, com as crianças”.
Cátia Januária Rosa, auxiliar de produção: “Tentam fazer as pessoas acreditar que não existe discriminação, mas ela existe sim. Não me sinto discriminada, mas sei de situações que poderiam ter acontecido comigo e sofro com isso. Eu batalho para vencer o preconceito. Consegui entrar na Faculdade de Pedagogia e só não prossegui porque preciso trabalhar. Este ano presto exame de novo. Para nós, negros, tudo é mais difícil. Por isso temos que nos superar, correr atrás. É fácil ficar sentado e não lutar. Mas temos que ser brasileiros