Golpe de 64: País é outro 43 anos depois
Há cerca de um mês, o presidente Lula resolveu iniciar a reforma ministerial pela área militar.
Seguindo a melhor tradição republicana, consultou seu ministro da Defesa, o civil Waldir Pires. Só depois anunciou os nomes dos novos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica.
Em seguida os três militares tomaram posse. A cerimônia foi tão tranquila que não ganhou destaque nos jornais e Lula deu um exemplo de democracia e respeito às instituições.
Seu comportamento totalmente diferente do que aconteceu há exatos 43 anos.
No dia 1º de abril de 1964, os ministros (hoje comandantes) do Exército, da Marinha e da Aeronáutica se reuniram no Palácio das Laranjeiras, no Rio de Janeiro, e escolheram o general Castello Branco como presidente da República.
Eles haviam acabado de derrubar o presidente eleito pelo voto popular, João Goulart, o Jango, devido ao apoio que dava às lutas populares.
Pela primeira vez em sua história, o Brasil ficou sob uma ditadura militar.
Jango vacilou, diz historiador
“Jango, o presidente derrubado, respaldava as forças democráticas, que iam da classe operária aos estudantes, profissionais liberais, intelectuais em geral e mesmo parte do empresariado”, explica o historiador Jacob Gorender, ele próprio um participante ativo das lutas no período.
“Sob Jango, cresceu o vigor dos setores que exigiam mudanças profundas na sociedade brasileira, mudanças que receberam a denominação de reformas de base e incluíam direito de greve, liberdade de organização partidária, reforma agrária, legislação nacionalista sobre o capital estrangeiro e várias outras”, prossegue Gorender.
“Diante do movimento de ascenção pelas reformas, Jango permanecia indeciso. Não se tratava de reivindicações revolucionárias. Poderiam, no entanto, preparar o caminho da transformação da sociedade brasileira numa sociedade avançada, com hegemonia dos trabalhadores e de seus aliados progressistas”, afirma o historiador.
Quando Jango se moveu para o lado das mudanças profundas já era tarde. Os militares haviam tomado a dianteira e dado o golpe de Estado.
Luta popular inicia enfrentamento
A ditadura começou a cair com as mobilizações populares e ganhou fôlego com as greves metalúrgicos do ABC, em 1979. Cansados dos baixos salários, mas impedidos de fazer qualquer movimento, a categoria se levantou contra o arrocho. Aí estourou a tampa da panela de pressão.
Os companheiros na Scania, em São Bernardo, cruzaram os braços em maio de 1978, no confronto mais sério com a ditadura em mais de dez anos. Outras categorias começaram a parar no Estado e no País. A insatisfação contagiou toda a sociedade brasileira, que perdeu o medo e foi para as ruas.
A ditadura ainda durou até 1985. Deixou mais de duas décadas de cassações de políticos, sindicalistas e outras lideranças populares. Partidos, sindicatos combativos, organizações estudantis, populares e rurais foram fechadas. Todo o tipo de oposição era proibido. Lideranças eram presas e exiladas, o clero foi perseguido. O País viveu sob absoluto terror. A tortura era o principal meio usado pela repressão para combater todo o tipo de oposição ao