40 anos sem Che

"Nós, socialistas, somos mais livres porque somos mais plenos; somos mais plenos por sermos mais livres"

“Vivo como jamais quiseram que estivesse”

No dia 9 de outubro
de 1967, quando Ernesto
Guevara de la Serna, o Che,
foi assassinado aos 39 anos
no povoado de La Higuera,
na Bolívia, quase todos os
governos da América Latina
eram conservadores ou ditaduras.
Hoje, 40 anos após
sua morte, a maior parte do
continente é constituída por
regimes progressistas.

O neoliberalismo e sua
ideologia individualista, contra
o povo e a favor da exploração,
perde cada vez
mais terreno para sociedades
humanas, que cuidam do
bem estar geral, defendem
a solidariedade e a fraternidade.
Os mesmos ideais
defendidos por Che.

Sua vida e seus escritos
representam os projetos
de transformação iniciados
no século passado e que
tornam-se realidade agora.
Entender sua história é
entender as mudanças no
continente onde ele foi protagonista
como militante, intelectual,
dirigente político e
comandante guerrilheiro.

Por isso, na cidadezinha
de Vallegrande, onde o corpo
de Che foi enterrado após
ser fuzilado por militares
bolivianos e agentes da CIA,
há uma frase pichada em
espanhol: Che – Vivo como jamás
quisieron que estuvieras.
A
frase descreve a verdadeira
herança de Che.

Os anos de formação

Che nasceu dia 14 de
julho de 1928, em Rosário,
na Argentina. Lá passou a
infância e a adolescência.
Na biblioteca de sua casa
havia obras de Marx, Engels
e Lênin, com os quais
se familiarizou. Em 1947
entrou na faculdade de medicina
em Buenos Aires. Nos
anos de 1952 e 1953 realizou
duas grandes viagens de bicicleta
motorizada em que
conheceu a maior parte da
América Latina. Tomou
contato com um continente
miserável, onde a riqueza de
poucos causa a infelicidade
de muitos.

Para combater a pobreza,
em 1954 mudou para a
Guatemala e colaborou com
o governo progressista de
Jácobo Árbenz. Um golpe
militar derrubou o presidente
um ano depois e acabou
com as esperanças de Che
nas reformas. Obrigado a
fugir, se asilou no México
onde conheceu Fidel Castro,
que liderava um movimento
armado para derrubar o
ditador cubano Fulgêncio
Batista.

Em 1956, Che, Fidel e
algumas dezenas de revolucionários
partiram para Cuba
em um velho barco. No ano
seguinte, o grupo guerrilheiro
instalou-se em Sierra Maestra
e, de lá, organizou a Revolução
Cubana. Em 1959, assumiram
o poder e Che foi para
o governo.

O projeto revolucionário

O professor Emir Sader
afirma que as orientações de
Che dominaram o primeiro
projeto de construção do
socialismo em Cuba. “Sua
visão associada da política, da
moral e da economia fez com
que ele, em primeiro lugar,
pensasse na industrialização
como o caminho econômico
para a soberania de Cuba no
cenário internacional”, diz.

Che conseguiu maquinaria suficiente nos então
países comunistas. Só que a
industrialização não se reduz
a isso, mas inclui mão-de-obra
qualificada, tecnologia, acesso
a matérias-primas, canais de
comercialização, financiamento.
Como não obteve
nada disso nos países do Leste
Europeu e enfrentou um
feroz embargo econômico
norte-americano, Cuba não
alcançou a industrialização.

A luta no continente

Sader explica que, ao
ver seu projeto estrangulado,
Che concluiu que a única
saída era uma revolução em
toda a América Latina. “Ele
não buscava uma revolução
só na Bolívia, mas, valendose
da localização geográfica
daquele país, no coração da
América do Sul, catalisar os
núcleos de luta armada que
surgiam então em todo o
continente”, prossegue.

Suas idéias ressurgem
40 anos depois em governos
populares da América
Latina. “Che representa tudo
isso porque aponta para a utopia, para o horizonte. Representa
a crítica do mundo
consumista, mercantilizado,
em que tudo se co