Seja um doador de órgãos

Número de doadores está caindo no Brasil e Ministério da Saúde lança campanha. A formadora Célia Caldas doou um rim ao irmão e diz que renasceu.

Campanha quer incentivar participação

O Ministério da Saúde
lançou campanha para incentivar
a doação de órgãos
para transplantes no Brasil.
Com o nome de Não deixe
escapar das suas mãos a oportunidade
de salvar vidas: doe seus
órgãos, doe vida
, a iniciativa
atende pedido da Associação
Brasileira de Transplantes de
Órgãos (ABTO), para quem
a queda no número de doadores
está associada a falta
de incentivo e de campanhas
permanentes de esclarecimento
a população.

Aumentou de 60 mil,
no ano passado, para 70
mil, neste ano, o número
de pessoas que precisam de
transplante no Brasil. No entanto,
o número de doações
de órgãos está em queda.

Em 2004, era de 7,3
doadores por milhão de pessoas,
baixando no primeiro
semestre deste ano para 5,4
doadores por milhão. O índice
está abaixo dos EUA,
de 23 por milhão, e da Europa,
com 20 doadores por
milhão.

O ministro da Saúde
José Gomes Temporão explica
que a queda aconteceu
porque cerca de 30% das
famílias que tiveram seus
parentes com morte encefálica
recusaram a doação de
órgãos. “Permitir a doação
é uma forma de amenizar
profundamente a dor da
perda de uma pessoa querida.
É perceber que a vida
continua em outras pessoas”,
afirmou Temporão.

Como fazer – O programa de transplantes
do Sistema Único
de Saúde (SUS) é o segundo
maior do mundo, superado
apenas pelo da Espanha.
Entre 2001 e junho deste
ano, ele realizou 87 mil operações.

Só no ano passado, investiu
R$ 460 milhões com
transplantes.

Para se tornar um doador,
é necessário conversar
com a família e deixar claro
esse desejo. Não é preciso
deixar nada por escrito,
apenas os familiares devem
se comprometer a autorizar
a doação por escrito após a
morte.

A doação só é feita após
a constatação de morte encefálica
e se uma ou mais
partes do corpo (órgãos
ou tecidos) estiverem em
condições de serem aproveitadas.

Para falar com as centrais
estaduais de transplante,
é só ligar para o Disque-
Saúde pelo 0800 61 1997. A
ligação é gratuita.

Vida normal para os dois após transplante

Dez anos após sofrer
uma nefrite, Leonardo Cappucci
viu os sintomas da
doença retornarem. O rapaz,
então com 22 anos,
começou a urinar sangue,
ficou sem forças até para
subir escadas e fôlego para
caminhar. Seus rins perdiam
rapidamente as funções e ele
caminhava para o tratamento
por hemodiálise.

“Descobrimos um
mundo terrível”, conta a
irmã de Leonardo, Célia
Caldas, a Celinha do Departamento
de Formação
do Sindicato, ao revelar o
choque que a família levou
ao conhecer a realidade dolorosa
da hemodiálise, que
deixa a pessoa presa a uma
máquina, sem vida social ou
profissional.

“Não tivemos dúvida
que a saída era o transplante
e começamos a fazer os
exames de compatibilidade”
prossegue Celinha. Ela revela
que renasceu ao saber que
era a melhor pessoa para doar
o rim para o irmão. “Existem
coisas que não estão em
nosso alcance, mas quando
acontecem dão a sensação
de um milagre. E nem sou
religiosa”.

Tudo certo – Celinha relembra que
ela e Leonardo estavam extremamente
tranquilos na
véspera da cirurgia. A maior
dúvida de ambos era como
seria a vida deles depois da
operação. Os médicos tiraram
seu rim esquerdo e colocaram
no corpo do irmão,
que manteve seus dois rins.
A cicatriz é tão pequena
que Celinha vai de biquini
na praia.

No dia seguinte a intervenção,
Leonardo já caminhava
pelo quarto. Ela teve uma
recuperação um pouco mais
lenta, mas também sem qualquer
problema. Tanto que engravidou
pouco depois e tem
um filho de dois anos.
O irmão também foi pai
de um menino há dois meses
e leva uma vida bastante
agitada, cuidando da criança,
terminando o curso de
Geografia na USP, fazendo
estágio e trabalhando como
gerente de cinema nos finais
de semana.

Nada muda – Celinha conta tudo