A remontagem do Linha de Montagem
O filme Linha de Montagem, sobre as greves dos metalúrgicos de 1979 e de 1980, foi restaurado depois de mais de 20 anos e será relançado no Sindicato.
O diretor Renato Tapajós disse que começou a filmar sem saber o que exatamente queria, mas no final o sentido foi o de alimentar um processo de organização dos metalúrgicos, personagens principais da obra.
O filme Linha de Montagem,
um documentário de
Renato Tapajós sobre as
greves dos metalúrgicos de
1979 e 1980, foi restaurado
depois de mais de 20 anos
e será relançado na Sede
do Sindicato no dia 15 de
maio.
O documentário já teve
exibição pública durante o
festival Tudo é Verdade, no
início deste mês, e agora o
diretor negocia a sua exibição
em circuito comercial.
O filme mostra a greve
dos metalúrgicos do ABC,
em 1979, e a repressão da
ditadura militar para acabar
com o movimento. No ano
seguinte, os trabalhadores
fazem outra greve e os militares
decretam intervenção
no Sindicato e prendem e
processam os diretores.
Renato Tapajós disse
que estará presente na exibição
do filme no Sindicato
e que espera reviver o lançamento
original, só que com
mais tranquilidade.
Qual sua expectativa?
É que haja uma reprodução
do lançamento
original do filme, em 1982.
Espero encher o auditório
do Sindicato com bastante
gente e que o público, principalmente
as pessoas mais
novas, consiga curtir o filme
como o pessoal da época.
Nas experiências que
tivemos até agora, com a exibição
do filme na Cinemateca,
a reação foi muito boa,
inclusive dos mais jovens.
O filme ficou velho depois de mais de 20 anos?
Não acredito. Vendo
o filme agora, percebi que
naquela época já tinha usado
uma linguagem moderna,
que facilitou a compreensão
por parte de uma platéia que
viveu aquele período.
Embora seja um documentário,
o filme tem um
ritmo muito rápido, como
os acontecimentos, é quase
um filme de ficção.
Outro aspecto é o fato
das pessoas verem momentos
de nossa história
relacionadas aos dias atuais.
O presidente do Sindicato
naquela época é hoje o presidente
da República, e outras
pessoas que aparecem
no filme estão nos escalões
superiores do governo. O
filme mostra o nascimento
de um movimento que hoje
está em Brasília.
Como o documentário
foi feito?
Com a explosão da greve
de 1979, o Lula pediu
para eu filmar. Fui sem ter
idéia de que filme iria fazer.
Depois, chegamos a conclusão
de que era interessante
naquele momento registrar
como estavam evoluindo
as formas de organização
do movimento operário,
que realizava uma greve tão
significativa sob um regime
ditatorial.
Decidimos concentrar
as filmagens nas atividades
dos operários com o objetivo
de fazê-los refletir sobre
o que eles tinham conseguido
criar.
O filme, depois de pronto,
tinha o sentido de voltar
para o público que lhe deu
origem e, com isso, alimentar
um processo de luta.
Qual foi a confusão no lançamento do original?
O Linha de Montagem
foi lançado em 1982, no salão
do Sindicato, ainda na
época da ditadura militar,
mesmo sem a liberação por
parte da censura.
Foi um acontecimento,
com o salão totalmente lotado,
e também com a presença
de Chico Buarque, que
fez a trilha sonora do filme.
A Polícia Federal chegou
no meio da exibição
com ordem de interromper
a projeção e apreender o
filme.
Os metalúrgicos barraram
a polícia na entrada do
prédio, chegaram reforços e
houve muita confusão. Depois
foi feito um acordo. A
polícia deixaria terminar a
exibição e em seguida levaria
o filme embora.
Mas nada disso aconteceu
pois a cópia do filme
desapareceu. Os rolos foram
passados por uma janela no
fundo do salão e sumiram, e
a polícia foi embora de mãos
vazias.