“Este sindicato é responsável por quase tudo que aconteceu de mudança na relação de trabalho nesse País”, afirmou Lula
Simpósio marca os 35 anos da greve de 80 e aproxima Sindicato do judiciário
“Este Sindicato é responsável por quase tudo que aconteceu de mudança na relação de trabalho nesse País. Não é mérito da diretoria, é mérito da categoria, que nunca negou fogo e nunca mediu sacrifícios para fazer as lutas.”
A afirmação é do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que relembrou a greve de 1980 na abertura do Simpósio “Ação Coletiva, Democracia, Trabalho e Transformação Social”, na terça, dia 28, na Sede. O evento foi organizado pelo Sindicato e pela Escola Superior do Ministério Público da União, a ESMPU.
O presidente do Sindicato, Rafael Marques, ressaltou que os 35 anos da greve é uma data especial. “Todo mundo aqui reconhece a greve como um movimento transformador na história da classe operária brasileira.”
“O evento é a oportunidade de fazer uma radiografia, olhar o futuro e os desafios sobre o processo da negociação coletiva no Brasil”, prosseguiu Rafael.
Lula contou detalhes das greves e afirmou que era muito diferente fazer sindicalismo antes. “Naquele tempo você era preso por entregar um simples boletim na porta de fábrica”, explicou.
A greve de 80 foi marcada não só pelos 41 dias de braços cruzados em plena ditadura militar, mas também pela luta de classe.
“Em 79, tivemos ganhos, mas saímos como traidores. Em 80, a gente não ganhou nada de aumento salarial, mas foi uma grande vitória pela evolução da consciência política do trabalhador”, disse.
Lula e os dirigentes do Sindicato chegaram a ser presos pelos militares na greve. Foi a partir dessa greve que uma série de direitos foi conquistada, com a criação da CUT e do PT.
Para Lula, ser dirigente é mais difícil atualmente. “Hoje não é só dizer o que quer. Tem que ser criativo, estudar muito e ser propositivo”, afirmou. “É preciso reivindicar com o patrão, na Prefeitura, nos governos do Estado e Federal, no Congresso e ir para a Europa brigar com as matrizes. Ficou muito mais amplo o leque de luta dos trabalhadores”, continuou.
Lula também ressaltou o modelo inovador de eleição no Sindicato. “Falo sem medo de errar que este Sindicato é o que mais produz lideranças. Por isso, apresentou propostas como a Renovação da Frota de Caminhões, o Inovar-Auto e o Programa de Proteção ao Emprego”, disse.
“Vocês estão fazendo história hoje. É um marco extraordinário na vida do Ministério Público e na vida dos trabalhadores”, concluiu Lula.
PL 4.330 – O procurador-geral do Trabalho, Luís Antônio Camargo de Melo, afirmou que os trabalhadores metalúrgicos abriram o caminho para o Brasil avançar democraticamente e ter direito a voto. Também criticou duramente o Projeto de Lei 4.330, que permite terceirizar todos trabalhadores. “Só o número da lei já nos dá o alerta porque é o mesmo número da lei anti-greve na ditadura militar. O PL significa a efetiva precarização do trabalho e um enorme retrocesso que não podemos permitir”, disse.
“A greve de 80 ensinou que nem sempre a greve com conquista econômica é uma vitória e nem sempre a greve com derrota econômica é uma derrota política. Com certeza a greve de 80 foi a que obtivemos a maior vitória política da classe trabalhadora brasileira”, Carlos Grana, prefeito de Santo André
“Rememorar a greve é muito importante porque a maioria dos trabalhadores não vivenciou aquela época. É preciso conhecer a história para valorizar as conquistas e os avanços sociais nesses 35 anos, com organização e consciência de classe”, Sérgio Nobre, secretário-geral da CUT
A realidade é muito diferente de 35 anos atrás e é uma grande oportunidade voltar os olhos para onde começou o movimento, aprender mais e direcionar o futuro da melhor forma”, Carlos Henrique Martins Lima, diretor da Escola Superior do Ministério Público da União
“As greves de 78 e todas até 80 são o maior e mais expressivo ciclo grevista da história brasileira, marcando a luta contra a ditadura militar e pela redemocratização. O que fez essa categoria se mover em condições tão adversas foi muito mais do que a reivindicação por aumento salarial. Foi a reivindicação da dignidade a partir do trabalho”, Lais Abramo, diretora da Organização Internacional do Trabalho no Brasil
O que disseram os palestrantes no segundo dia de debates no Simpósio
“O papel das instituições do mundo do trabalho na negociação coletiva”
“Temos que assegurar o direito de greve. A lei precisa ser atualizada”, Francisco Gérson Marques de Lima, coordenador do CONALIS (Coordenadoria Nacional de Promoção da Liberdade Sindical) do Ministério Público do Trabalho, o MPT
“O exercício da democracia é muito difícil e acredito que o MPU [Ministério Público da União] está no caminho certo em amparar a democracia sindical”, Ivani Contini Bramante, desembargadora do TRT-SP
“Os avanços obtidos pela negociação coletiva no Brasil: os patamares das relações de trabalho a partir da função negocial”
“Se o Projeto de Lei 4.330 vigorar, acabou a relação capital-trabalho”, José Lopez Feijóo, assessor especial da Secretaria Geral da Presidência da República
“Para a gente ter uma negociação coletiva forte, os trabalhadores precisam ter seus direitos garantidos”, Juvândia Moreira Leite, presidente do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região
“Perspectivas para a negociação coletiva no Brasil: o futuro das tratativas entre o capital e trabalho”
“Avançamos nas negociações e isso exigiu mais qualificação dos dirigentes sindicais para debater políticas públicas mais amplas”, João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força Sindical
“A terceirização em qualquer área da empresa converte o trabalhador em mercadoria, que tem valor depreciado, explorado e descartado”, Ricardo José Macedo de Britto, Procurador do Trabalho
“Os desafios para o exercício da função negocial dos sindicatos”
“Qual o sentido da terceirização do jeito que está exposto no PL 4.330? É simplesmente o de baixar salários”, José Francisco Siqueira Neto, advogado e diretor da faculdade Mackenzie
“Programa de Proteção ao Emprego, o PPE, é saudável também para o plano de ajuste fiscal do governo federal”, Luiz Moan, presidente da Anfavea, o sindicato das montadoras
Da Redação