“A jararaca está viva”

(Foto: Roberto Parizotti)

Em pronunciamento no Diretório Nacional do PT na sexta-feira, dia 4, transmitido com exclusi­vidade pela TVT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou a espeta­cularização da condução coercitiva na Operação Lava Jato.

No mesmo dia, Lula também parti­cipou de ato na quadra do Sindicato dos Bancários, em São Paulo, organizado pela CUT e pela Frente Brasil Popular.

Confira os principais trechos dos discursos de Lula:

Show midiático

Se o juiz Moro ou o Ministério Público quisessem me ouvir, era só ter mandado um ofício para eu ir, como sempre fui.

Não devo e não temo. Estamos vi­vendo um processo em que a pirotecnia e o show midiático valem mais do que qualquer coisa.

Eu me senti prisioneiro hoje de manhã [sexta, 4 de março]. Se a Polícia Federal ou o Ministério Público encon­trar R$ 1 de desvio na minha conduta, eu não mereço ser desse partido. Eu não vou baixar a cabeça.

Jararaca

Acenderam em mim a chama de que a luta continua e que preciso voltar a correr este País. Não era necessário o jogo de hoje. Tudo isso é para desgastar o nosso governo. Vou pôr as canelas de fora e percorrer este País. Lutei tanto para democratizar este País, contra a ditadura e não vou aceitar essa ditadura midiática. E convido vocês a correrem o País comigo.

Se quiseram matar a jararaca, não bateram na cabeça. Bateram no rabo. A jararaca está viva.

Chácara e apartamento

Eu vou na chácara dos meus amigos porque meus inimigos não me convi­dam. Se a Globo me convidar pra ir lá no triplex deles em Paraty, eu posso ir.

Eles estão julgando um apartamento que não é meu. Que a Globo ou o Mi­nistério Público me dê o apartamento.

Eu espero que, quando terminar esse processo, eu tenha um apartamento e uma chácara que eu não tenho hoje.

Milagres

Hoje é o dia da indignação. Já sofri muitas coisas nesse País, já fui preso quando era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, já fui cassado no Sindicato.

Já perdi eleições para governador e para presidente e, em todas as vezes em que sofri revés e fui derrotado, me comportei como democrata.

Embora indignado, quero que sai­bam que escapei de morrer de fome na terra que eu nasci quando tinha cinco anos. Esse foi o primeiro milagre da minha vida.

Aconteceu um segundo milagre, o diploma de torneiro mecânico. Terceiro, ajudei a montar um partido e a fundar a Central Única dos Trabalhadores, a CUT.

O quarto, muitos companheiros me levaram à Presidência. O quinto, fui me­lhor do que todos eles que governaram este País.

Governo

As pessoas do andar de baixo con­seguiram subir degrau na escala social.

Os negros, os índios, as empregadas domésticas, a juventude da periferia começaram a ser mais respeitados.

As pessoas começaram a ter acesso a universidades e escolas técnicas.

Os trabalhadores receberam aumen­to real de salário. Os aposentados passa­ram a receber aumento real. O salário mínimo aumentou. E isso incomodava muita gente da elite brasileira.

As pessoas mais pobres começaram a frequentar teatro, cinema, a viajar de avião. O pobre não era problema. No nosso governo, passou a ser solução.

E esse legado que estou contando para vocês os meios de comunicação e a elite brasileira queriam apagar.

Mulher

Nós tivemos a coragem revolucio­nária de eleger uma mulher. Eu tenho orgulho porque sou metalúrgico e me­talúrgico era tido como machista.

Com a ajuda de vocês, elegemos uma mulher presidenta da República.

A eleição de 2014 foi a mais difícil da história. Nunca vi uma pessoa ser tão agredida quanto foi a Dilma.

Eu, que achava que a elite brasileira tinha preconceito contra nordestino e analfabeto, descobri que muito mais grave era o preconceito contra a mulher.

Quando cheguei na Constituinte, nem banheiro feminino tinha no Congresso Nacional, aquilo era coisa de macho.

É uma pena que as mulheres cres­ceram mais de 50% no mercado de trabalho, mas a entrada do homem na cozinha não acompanhou a mes­ma proporcionalidade para ajudar a companheira. É uma pena que ainda prevaleça a violência contra a mulher.

Internet

A internet é uma coisa extraordiná­ria. É uma revolução, mas ela liberou os demônios porque antigamente para alguém falar mal de mim tinha que ligar para alguém e se identificar. Hoje o cara que é FDP de verdade não se identifica. Ele vai para a internet falar mal de alguém.

Acho que a gente tem que encontrar mecanismo para competir e criar um sistema de comunicação que envolva todos nós numa linguagem específica para enfrentar nossos inimigos.

Da Redação