Estudo do Dieese reflete falta de protagonismo dos empresários da indústria
(Foto: Adonis Guerra)
Em encontro com as centrais sindicais ontem, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, o Dieese, divulgou o balanço das negociações dos reajustes salariais 2015, em São Paulo. A proporção dos reajustes igual ou abaixo da inflação no Brasil aumentou com resultados semelhantes aos de 2004.
No setor da indústria, as negociações foram as mais impactadas no ano passado, sendo que 45% dos reajustes tiveram ganho real, 36% igual ao INPC e 19% abaixo da inflação (confira tabela abaixo). No comércio, os resultados com aumento real representaram 53% dos casos e em serviços, 62%.
O presidente do Sindicato, Rafael Marques, analisou que o resultado das negociações no País refletiu os setores que estão em debate na sociedade. “Os trabalhadores em segurança, mobilidade, educação e saúde intensificaram seus ganhos com reajustes acima da inflação”, explicou.
“Já a indústria está sem lideranças empresariais para defender o setor. Não vemos essa defesa pelos patrões, que estão sem voz e perderam o protagonismo na sociedade”, afirmou. “Enquanto o Sindicato defende insistentemente a produção do conteúdo nacional, políticas industriais, emprego e renda, o movimento feito pela Fiesp só contribui para enfraquecer a indústria nacional”, continuou.
De acordo com o coordenador de relações sindicais do Dieese, José Silvestre Prado de Oliveira (foto), o estudo mostra que, mesmo com a piora nos reajustes, os resultados de 2015 são melhores do que os observados antes de 2004.
“Menos categorias conquistaram ganhos reais no segundo semestre devido ao comportamento da atividade econômica e da inflação em 2015”, explicou.
Outro item verificado pelo estudo é o aumento do pagamento parcelado dos reajustes salariais, que passou de 6,5% dos casos em 2014 para 12,7% em 2015. “Essa modalidade de pagamento quase dobrou de um ano para o outro e isso revela a dificuldade de negociação em conjuntura adversa com inflação e desemprego”, disse.
Para o presidente do Sindicato, o estudo é um instrumento fundamental para os trabalhadores desenvolverem a luta com inteligência. “São dados importantes para preparar a campanha salarial deste ano e estruturar os desafios, que serão grandes e terão que ser enfrentados”, concluiu Rafael.
Da Redação
Distribuição dos reajustes salariais na indústria, em comparação com o INPC-IBGE, e variação real média dos reajustes. Brasil, 1996-2016