41 dias de luta marcaram o movimento dos ferramenteiros na Volks
(Foto: Januário F. da Silva)
No início de abril de 1991, cerca de 1.600 ferramenteiros na Volks, em São Bernardo, cruzaram os braços e deram início à greve que duraria 41 dias e marcaria a sonhada valorização da categoria. O movimento organizado rendeu aos trabalhadores o melhor acordo conseguido pelo setor até então, o reajuste de 168,62% foi concedido aos companheiros de todas as unidades da Autolatina (fusão da Volks e da Ford). A inflação do período era de 472,7%.
A necessidade de valorizar o setor, no momento em defasagem, foi o mote principal para a paralisação. O ferramenteiro Gilberto José de Souza, o Giba (foto), que trabalhava na empresa há três anos, participou de todo o processo e recorda a motivação.
“Naquele tempo os ferramenteiros não ganhavam o que se ganha hoje, os trabalhadores não eram reconhecidos. As empresas menores pagavam mais do que a Volks e muitos companheiros estavam indo embora por conta disso. Nós pedíamos a equiparação salarial.”
Apenas um terço da ferramentaria parou nos primeiros dias, mas o movimento foi ganhando a adesão dos demais. “No começo foi muito difícil, as pessoas não entendiam o porquê da paralisação, mas houve um entendimento de que era preciso valorizar nossa mão de obra, de que o salário estava defasado e de que a nossa luta era justa”.
(Foto: Edu Guimarães)
A greve foi ganhando volume e em poucos dias praticamente todos os ferramenteiros estavam parados dentro da montadora. Giba relata que esta foi justamente a proposta, cruzar os braços dentro da fábrica e cumprir na íntegra o horário de expediente.
Enquanto os outros setores seguiam trabalhando, os ferramenteiros jogavam dominó, contavam suas experiências para alunos do Senai, tocavam violão e circulavam pelas outras áreas sendo aplaudidos e incentivados pelos companheiros em atividade.
Apesar do receio inicial os companheiros em luta, tiveram grande apoio. “No começo ficamos muito assustados, sentíamos que teria repressão, mas a fábrica não tinha controle naquela época, não tinha catraca, era muito aberto”, contou Giba. E destacou: “A representação do Sindicato foi muito importante, todas as manhãs estavam lá em assembleia”.
Ao final dos 41 dias, os metalúrgicos voltaram ao trabalho deixando tudo em ordem como estava antes da paralisação.
No acordo firmado entre o Sindicato e a Autolatina as horas não trabalhadas durante a greve foram descontadas sem incidência sobre o DSR, feriados e férias e 13º salário. Na ocasião, também foi garantido o empréstimo individual aos companheiros do movimento de 60 mil cruzeiros.
Wagnão é readmitido após a greve
Ele trabalhava na Volks há seis anos, quando em meados de 1991, em meio à outra greve, havia sido desligado da empresa por conta de uma acusação injusta de agressão a um colega ‘fura greve’.
Na ocasião, foi oferecido a ele retorno ao trabalho em troca da delação do colega que havia praticado a agressão, mas Wagnão se recusou e ficou sete meses desempregado.
“Foi uma época difícil, estava com dois filhos pequenos, construindo minha casa em Santo André e só consegui me manter por conta de uma ajuda do Sindicato, o valor dava pra fazer despesa e pagar água e luz”, conta.
No acordo para encerrar a greve dos ferramenteiros na Volks, os trabalhadores exigiram da montadora a reitegração do dirigente, que fazia parte da Comissão de Fábrica, quando foi demitido injustamente. Ele só voltou para a fábrica em setembro.
(Foto: Januário F. da Silva)
Da Redação