Ana Nice é a única vereadora eleita em São Bernardo
(Foto: Adonis Guerra)
A diretora executiva licenciada do Sindicato, Ana Nice Martins de Carvalho, foi eleita com 4.090 votos, no último domingo, dia 2, a única vereadora de São Bernardo.
“Ela foi eleita por um único e grande fator: trabalho”, declarou o presidente dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques.
“Sempre se comportou dessa maneira incansável. Essa postura levou à sua eleição e nos orgulha muito, por que essa é a marca dos nossos dirigentes, no Sindicato e em outras jornadas”, completou.
Rafael disse ainda que ficou muito feliz por ser da categoria a única mulher da Câmara dos Vereadores e, com isso, minimizar a falta de representação feminina no legislativo da cidade.
A campanha eleitoral de Ana Nice percorreu toda a cidade e conversou com a população em cada canto do município.
“Em cada história, uma superação. Aprendi muito nesse período”, declarou a dirigente após a apuração dos votos.
“Meu mandato será o mandato do povo, daqueles que contribuíram com essa construção e que possibilitaram a nossa vitória. Agradeço imensamente o apoio dos Metalúrgicos do ABC, dos movimentos sociais, de alfabetização, dos jovens, das mulheres e de todos que participaram”, disse a vereadora eleita.
“Estamos muito felizes com a eleição da Ana Nice. É um exemplo para todas nós, de que é possível ampliar a participação da mulher em qualquer esfera de representação social”, afirmou a coordenadora da Comissão de Metalúrgicas do ABC, Maria do Amparo Ramos.
Ana Nice foi eleita entre os 10 vereadores mais votados junto ao ex-metalúrgico na Ford, o já vereador Tião Mateus, que obteve 4.119 votos, o mais votado da legenda do Partido dos Trabalhadores.
Ana Nice – flor de algodão e aço
A maciez do algodão esconde a dureza da infância perdida nas lavouras de Espinosa, no norte de Minas Gerais, onde nasceu Ana Nice Martins de Carvalho, em 4 de janeiro de 1974. Ela não se lembra com quantos anos foi para a roça acompanhar seus pais no plantio e na colheita: “acho que nasci no roçado”.
As dificuldades daquele período, no entanto, são lembradas por ela com ‘causos’ que provocam gargalhadas: ‘o pão era tão duro, porque a gente comprava pra semana, que a minha avó foi cortar uma vez e o pedaço voou, as galinhas não perdoaram. A gente disputava o pão com as galinhas’, brinca.
O trabalho, desde criança, a privou de qualquer tipo de luxo e também dos estudos. Aos 14 anos de idade ainda não estava alfabetizada. Foi a enfermidade do irmão mais novo, que precisava de uma cirurgia na boca, o motivo da saída de sua terra natal. Ela conta que na época tinha amigos e, adolescente, não queria sair de Espinosa de jeito nenhum, mas por serem órfãos, a única chance do irmão seria a partida para São Paulo. A opção pelos outros a acompanharia para sempre.
No dia 11 de julho de 1988, após ter percorrido, por 22 horas, mais de mil quilômetros entre a pequena cidade mineira, de pouco mais de 30 mil habitantes, e São Bernardo do Campo, no ABC paulista, ela ‘ganhou’ uma nova família, com oito irmãos e sua mãe de coração. “Ela é o meu exemplo de amor ao próximo, não sei descrever. É um amor imenso”.
O rigoroso inverno daquele ano foi um choque. “Me aqueci com a solidariedade das pessoas, porque a gente não tinha nem blusa de frio e tivemos que emprestar dos vizinhos”.
Outro choque foi a quantidade ‘infinita’ de carros passando sem parar e a correria contrastando com a realidade rural que até então vivera.
Na cidade que adotou, teve a chance de ser alfabetizada, concluir os estudos fundamentais e o ensino médio e se formar em História pela Fundação Santo André.
O branco do algodão do roçado, que ficou em Espinosa, contrasta com a sua pele negra a qual tem muito orgulho. A riqueza cultural de suas raízes africanas foi o que a motivou na luta pela instituição do 20 de novembro no calendário oficial de São Bernardo, como o Dia da Consciência Negra, quando foi coordenadora da Comissão de Igualdade Racial do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
O cabelo afro é sua marca registrada e remete à emancipação social dos negros no Brasil, conquistada após a eleição do presidente Lula. Suas madeixas bem tratadas provocam curiosidade, inclusive do ex-presidente que também não resistiu ao toque e a maciez do algodão, que carrega em seus cabelos.
A flor foi o símbolo feminino da sua campanha eleitoral e agregou ternura à garra da mulher metalúrgica.
Ana Nice: flor de algodão e aço!
Da Redação