Presidente Wagnão inicia mandato hoje
Foto: Adonis Guerra
O presidente eleito dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, o Wagnão, assume hoje o mandato para o triênio 2017-2020 junto aos dirigentes do Conselho da Executiva da Direção, o Conselho Fiscal e a Diretoria Plena.
Wagnão é trabalhador na Volks desde 1984, foi eleito para a Cipa em 1987, Comissão de Fábrica em 1988, integrante do Comitê Mundial dos Trabalhadores na Volks em 1998, coordenador do CSE em 1999, presidente do Dieese em 2005 e secretário-geral do Sindicato desde 2008.
Em entrevista à Tribuna, o presidente falou sobre os principais desafios da sua gestão, a importância da organização da classe trabalhadora no enfrentamento aos ataques e na defesa dos direitos conquistados.
Tribuna Metalúrgica – Como a sua trajetória até hoje no movimento sindical vai contribuir para este novo desafio do Sindicato?
Wagnão – Foi no chão de fábrica que aprendi a fazer sindicalismo, foi subindo em cima de tambor, de banquinho, conversando com os trabalhadores, no caminhão de som. É desse jeito que esta categoria construiu a nossa história, não a minha, mas a de cada metalúrgico do ABC.
A experiência de cada um e a unidade dos companheiros para fortalecer a categoria é o que trago comigo ao assumir esta tarefa em um Sindicato importante não só no Brasil, mas em todo o mundo.
TM – Quais os desafios impostos pela conjuntura atual?
Wagnão – É uma conjuntura extremamente difícil, que impõe não só para o Sindicato, mas para o movimento sindical, desafios enormes em resistir a uma reforma Trabalhista já aprovada e que estabelece novas relações de trabalho, a terceirização irrestrita e a tentativa de acabar com a aposentadoria.
E uma conjuntura política onde os brasileiros não visualizam para onde o País vai. A nova Diretoria tem a obrigação de discutir que Brasil queremos do ponto de vista dos trabalhadores, que é diferente desse que está sendo colocado. Nosso papel enquanto dirigente é apontar que existe outro caminho possível e os trabalhadores têm condições de segui-lo. Porque a realidade atual nos impõe um futuro muito sombrio.
TM – O que os ataques representam à classe trabalhadora?
Wagnão – Temos que deixar muito bem explicado que existe um projeto em curso de diminuir o papel do Estado como indutor da economia, da saúde, educação e da geração de empregos de qualidade.
Somos o único País do mundo que colocou na Constituição a obrigação do pagamento da dívida pública com a Proposta de Emenda à Constituição 55, que limita os gastos por 20 anos. Mesmo se o Brasil crescer, os investimentos em saúde, educação e infraestrutura estarão limitados.
TM – Como as reformas Trabalhista, da Previdência e a Lei da Terceirização estão interligadas?
Wagnão – Para pagar os juros da dívida aos bancos e sistema financeiro, o Estado investe menos e empobrece a população com as reformas que estão colocadas. É o caminho totalmente diferente na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Com a PEC 55, alguém teria que pagar essa conta e estão jogando nos trabalhadores. Já vieram a Lei da Terceirização e a reforma Trabalhista, com a precarização das relações de trabalho, que tira as responsabilidades do contratante e afasta o sindicato das negociações, e a reforma da Previdência que desprotege os idosos na medida em que as pessoas não vão conseguir se aposentar.
A lógica de todas as reformas é o empobrecimento da população enquanto a elite financeira e patronal do País aumenta seus lucros.
TM – Como a reforma Trabalhista altera as relações de trabalho e de vida?
Wagnão – É uma reforma aprovada por um Congresso que não tem moral nem legitimidade e um projeto de governo que não foi eleito nas urnas. O México desregulamentou toda a legislação trabalhista e um metalúrgico em montadora lá precisa ter um segundo emprego para manter suas necessidades mínimas. A Espanha fez a mesma coisa e 40% da população até 35 anos está desempregada. A reforma regulariza o bico, acaba com a CLT e tem mais de 100 itens que retiram direitos.
TM – Qual o caminho para barrar os ataques?
Wagnão – Temos que lutar contra essas reformas, que significa lutar pela manutenção do emprego, por uma indústria forte e pela garantia de que cada um possa ao final do dia ir para casa em paz.
Poder falar para a família “olha a viagem que estávamos planejando, vamos começar a pagar agora”. E não chegar em casa e falar “vamos desistir da viagem, desistir da escola, porque a empresa está querendo romper os acordos e o governo está mexendo nos direitos”. São consequências da política sobre a nossa vida. E disso nós não vamos abrir mão e não vamos desistir da luta.
Estarei no segundo andar da Sede, a sala da presidência estará com as portas abertas para os companheiros, para ouvir um pouco da visão de mundo de cada um. Vamos continuar construindo juntos o futuro dos metalúrgicos do ABC.
Da Redação.