“A greve foi a pá de cal para enterrar a reforma da Previdência”

 

Foto: Adonis Guerra

Com a pressão dos trabalhadores durante todo o período de discussão da reforma da Previdência e sem ter votos suficientes para aprovar a mudança na Câmara dos Deputados, o governo recuou e suspendeu o desmonte na aposentadoria dos brasileiros.

O presidente do Sindicato, Wagner Santana, o Wagnão, ressaltou a importância das lutas da categoria contra a reforma da Previdência (relembre os atos na página 4).

Também avaliou o Dia Nacional de Greve, que contou com participação massiva dos metalúrgicos do ABC e das demais categorias em todo o País (confira mais na página 2)

Tribuna – O recuo do governo ao retirar a reforma da Previdência da pauta foi uma vitória da classe trabalhadora?

Wagnão – É inegável que o movimento dos trabalhadores desde o anúncio da reforma da Previdência foi essencial para barrar o fim das aposentadorias. Foram dezenas de assembleias, paralisações e mobilizações para deixar clara a nossa indignação e mostrar que a reforma não tem o apoio da classe trabalhadora.

A medida representaria um enorme retrocesso, inclusive foi duramente criticada até mesmo por setores da sociedade que apoiam esse governo ilegítimo.

A decisão de recuar é resultado da resistência de cada companheiro que lutou em defesa de um futuro digno para as próximas gerações. Então, é momento de comemorar a vitória.

Tribuna – Como a intervenção militar no Rio de Janeiro foi utilizada pelo governo?

Wagnão – Sem ter o número suficiente de votos na Câmara dos Deputados, nem mesmo entre os seus próprios aliados, o governo usou a intervenção militar na segurança pública do Rio de Janeiro como uma cortina de fumaça para justificar a retirada da reforma da pauta.

O presidente do Congresso Nacional, senador Eunício Oliveira (MDB-CE), suspendeu a tramitação de todas as Propostas de Emenda à Constituição, as PECs, como era o caso da reforma da Previdência, já que a Constituição determina que nenhuma PEC pode ser votada enquanto durar a intervenção.

Tribuna – O que avalia de mais significativo na luta dos trabalhadores?

Wagnão – Foram as mobilizações constantes dos trabalhadores para denunciar os principais pontos da reforma que colocavam em risco não só a aposentadoria, mas todo o sistema de Seguridade Social do País. Ao colocar entraves, a reforma dificultaria o acesso à aposentadoria ao ponto de que a maioria dos metalúrgicos sequer conseguiria se aposentar. E quem conseguisse teria o valor do benefício muito reduzido.

Tribuna – A que atribui a ampla participação dos trabalhadores no Dia Nacional de Greve, realizado na segunda-feira?

Wagnão – Os trabalhadores se conscientizaram de que a proposta colocaria a sociedade em um caminho de miséria. Os mais pobres voltariam a condições de fome.

Seria mais um passo na retirada de conquistas que vinham sendo consolidadas e que começaram a se desmantelar com o próprio golpe na democracia que retirou a presidenta eleita legitimamente.

Desde então, os direitos vem sendo retirados com as aprovações da reforma Trabalhista, a terceirização irrestrita e a PEC dos Gastos que congela os investimentos públicos por 20 anos.

Tribuna – Como analisa os atos no ABC e em todo o País?

Wagnão – Ficou bem explícito que, mesmo com o possível anúncio de retirada de pauta na semana passada, os trabalhadores não deixaram de se mobilizar.A greve foi a verdadeira pá de cal para enterrar de vez a reforma da Previdência.

Então a forte participação nos atos mostra que este é um tema extremamente importante para o trabalhador, já que toca naquilo que é um direito muito caro às pessoas, que é o direito legítimo de ter a sua aposentadoria assegurada depois de trabalhar por uma vida inteira.

Tribuna – Mesmo com a sociedade se manifestando contrária, ainda há chances de o governo retomar a discussão da Previdência?

Wagnão – Não podemos confiar nesse governo ilegítimo. Os trabalhadores têm que estar atentos e prontos para se mobilizar a qualquer momento que o governo ameaçar retomar essa pauta nefasta de desmonte social.

O governo deve essa conta para os que financiaram o golpe, para os banqueiros que querem acabar com a Previdência pública e forçar a entrada de parte dos trabalhadores para a previdência privada. Portanto, temos que continuar atento às manobras que esse governo é capaz de fazer.

Da redação