Fala Wagnão – Livre comércio: competição desigual pode destruir indústria no Brasil
Foto: Adonis Guerra
O acordo que está sendo construído de livre comércio entre União Europeia, UE, e Mercosul impõe redução das barreiras tarifárias para produtos que os blocos são especializados.
Os países do Mercosul são especializados na produção de ‘commodities’, como carne, soja, café, minérios, como aço; petróleo ‘in natura’, entre outras matérias-primas, que são exportados à UE.
Depois recebemos estes produtos de forma manufaturada. O caso do café solúvel é o mais simples para entendermos essa relação comercial: exportamos os grãos e importamos o café industrializado.
Na indústria automobilística, existe uma discussão sobre a redução gradativa das taxas de importação de veículos da UE, por conta da disputa de quando este imposto vai ser igual a zero.
O Sindicato defende que esse período tem que ser de ao menos 15 anos. Já a União Europeia pressiona os governos, principalmente do Brasil e da Argentina, para que a indústria europeia possa em um período mais curto exportar para o Mercosul automóveis com taxa zero.
Se isso acontecer, a indústria nacional estará competindo com um poderoso produtor de automóveis, que tem excedente de produção e capacidade instalada ociosa.
Isso significa destruir a indústria nacional e destruir dois milhões de postos de trabalho, apenas no Brasil.
O governo brasileiro vem cedendo às pressões e não se preocupa em defender os empregos no Brasil, é entreguista, acabou de vender 50% da Embraer, uma indústria de defesa extremamente importante e pode fazer o mesmo em uma discussão com a UE.
Poderemos ficar submissos ao que a União Europeia determinar. Esses são os riscos que temos nesse acordo.
Os 15 anos que defendemos é para que a indústria nacional tenha chance de se preparar para competir com o mercado europeu, se fortalecer.
A política automotiva tem que preparar o Brasil para uma competição internacional, que garanta os postos de trabalho, para que a indústria não fique fragilizada e depois seja destruída diante de uma competição desigual.
A indústria europeia tem uma produção mais cara, só que ganha em competitividade pelo seu desenvolvimento tecnológico, com maior conhecimento, por ser uma indústria mais avançada, ou seja, ela compensa seu custo mais alto com o desenvolvimento tecnológico.
O Brasil precisa criar a sua condição de desenvolvimento tecnológico. Estamos no meio, não somos nem a mão de obra mais barata do mundo, por isso não conseguimos competir com os países asiáticos e nem conseguimos competir com a indústria com mão de obra mais cara, porém com maior valor tecnológico.
Precisamos desenvolver a indústria e seus trabalhadores, para tanto precisamos ter estratégia e tempo, não dá para fazer abertura com o mercado Europeu, como é a produção europeia hoje. Isso significaria a destruição da indústria automobilística nacional.
O que está acontecendo é que o Brasil e a Argentina estão aceitando essas condições europeias e isso é o absurdo da história.
Da Redação.