Qual o futuro da indústria automotiva no Brasil?
Fotos: Adonis Guerra
O diretor executivo dos Metalúrgicos do ABC, responsável por políticas industriais, Wellington Messias Damasceno, criticou a falta de rumo do governo na elaboração do novo regime automotivo, o Rota 2030.
“O regime automotivo precisa ser um programa robusto para garantir o futuro do emprego, com melhor renda para o trabalhador, e investimentos na indústria brasileira”, afirmou.
“A demora do governo, que deixou o País sem política para o setor desde o fim do Inovar-Auto, em dezembro do ano passado, demonstra a falta de interesse e de visão de Temer e coloca em xeque o futuro da indústria no Brasil. Essa falta de foco transmite um recado extremamente negativo para os trabalhadores, a sociedade e os investidores”, alertou.
Temer se reuniu na terça-feira, dia 24, com representantes das entidades empresariais e anunciou que deve lançar o Rota 2030 em maio. Os Ministérios da Fazenda e da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, o MDIC, não chegavam a um consenso dentro do próprio governo.
Nas discussões de elaboração do regime automotivo, o Sindicato buscou espaço para colocar o ponto de vista dos trabalhadores.
“Diversas entidades, entre elas o Sindicato, universidades, empresários e governo, participaram do processo de discussão ao longo do ano passado. Colocamos as demandas da classe trabalhadora e estamos preocupados que o resultado desses debates não seja levado em consideração”, disse.
“Temos que manter a pressão e a cobrança em cima do governo para que as nossas pautas sejam contempladas no Rota 2030”, defendeu.
O dirigente enumerou as pautas apresentadas pelos Metalúrgicos do ABC, entre elas a qualificação profissional, a criação de novos produtos no Brasil, pesquisa, desenvolvimento, engenharia e ferramentaria, o carro elétrico e a inserção em novos métodos de organização da produção, principalmente por conta da Indústria 4.0.
“Além desses, defendemos a implantação de um centro independente de testes no País e o observatório da indústria para acompanhar a aplicação dos recursos públicos, o investimento em P&D, a capacitação dos trabalhadores e a entrada de importados”, ressaltou.
Os trabalhadores cobraram do governo a participação no processo de discussões. “Foram reuniões extremamente difíceis por sermos poucos defendendo uma política industrial brasileira”, lembrou o secretário de Formação da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT, a CNM-CUT, José Roberto Nogueira da Silva, o Bigodinho.
“Existe o risco de ter um programa automotivo que não dê condições do mercado brasileiro ser competitivo, com grande chance de uma nova invasão de importados e ainda mais retrocessos ao País”, disse. “As montadoras não se importam onde os veículos serão fabricados no mundo. Nós, trabalhadores, é que seremos afetados e defendemos que os empregos de qualidade gerados pela indústria devem estar no Brasil”, concluiu.
O Inovar-Auto, que vigorou de 2013 a 2017, foi a política de incentivo fiscal para as montadoras e empresas da cadeia automotiva para investirem em pesquisa, engenharia e desenvolvimento tecnológico. Também definia metas para que os carros se tornassem mais seguros, eficientes e menos poluentes. As novas plantas instaladas no País alcançaram mais de R$ 16 bilhões em investimentos e mais de 54 mil empregos diretos e indiretos forma criados.
Da Redação.