A universidade vem até os trabalhadores
Fotos: Adonis Guerra
“Estamos com as nossas instituições democráticas suspensas”
A afirmação é da cientista política Vera Cepêda em palestra para os trabalhadores na Volks. A atividade busca aproximar a universidade do chão de fábrica
A convite da Federação Estadual dos Metalúrgicos da CUT, FEM-CUT, e da Confederação Nacional do Metalúrgicos da CUT, CNM-CUT, a cientista política, professora da Universidade Federal de São Carlos, UFSCar, Vera Cepêda, fez ontem uma análise de conjuntura para a representação dos trabalhadores na Volks, em São Bernardo. A palestra “Política e Trabalho: Consciência e Democracia”, realizada nas dependências da fábrica, foi seguida de perguntas dos companheiros.
O secretário de formação da CNM-CUT, José Roberto Nogueira da Silva, o Bigodinho, enalteceu a importância do conhecimento e explicou que o projeto tem por objetivo aproximar o chão de fábrica da academia, e acrescentou que a proposta é levar a atividade para outros sindicatos onde há organização no local de trabalho.
“Uma das coisas que aprendi com a professora Vera é que nós somos a correia de transmissão dos movimentos sociais que vai fazer o Estado se movimentar. O que precisamos entender é o que fazer para essa correia se movimentar. Por isso trazer a universidade para dentro da fábrica é de tamanha importância”, destacou.
O vice-presidente do Sindicato e presidente da Confederação, Paulo Cayres, o Paulão, pontuou a relevância do debate. “Esse é um tema extremamente relevante e atual. Só por meio da formação vamos conseguir nos libertar, conscientizando o povo que está anestesiado”.
Em sua análise, a professora traçou um histórico eleitoral no País para chegar ao cenário político atual. Ela elegeu um elemento fundamental para entender como os efeitos da economia geram algum grau de conflito político.
“Se vivemos numa sociedade moderna, estamos falando de uma sociedade de trabalhadores para quem a ideia da sobrevivência depende do salário, que por sua vez depende da existência de um posto de trabalho numa cadeia produtiva organizada em termos nacionais. Então, é impossível dissociar a dinâmica econômica dos conflitos políticos. O problema é que nos últimos 150 anos é muito visível que o capitalismo cresce com aumento de produtividade que não é repassado para nenhuma outra estrutura da sociedade”.
Para a acadêmica, a população pode ter se acostumado a ter seus direitos retirados. “Parece que as pessoas naturalizaram a ideia de ter seus direitos sequestrados, mas não conseguem pensar que elas continuam sendo contribuintes e continuam alimentando um Estado que vai redirecionar esse patrimônio para outras pessoas”.
Sobre as eleições deste ano, ponto principal do debate, Vera destacou que elas não estão seguindo as regras do jogo e citou a judicialização seletiva e rápida.
“O Brasil infelizmente teve suspensas as suas regras fundamentais do Estado de direito. Não é verdade que estamos vivendo uma situação normal de eleição. Estamos com as nossas instituições democráticas suspensas. Os processos judiciais ocorreram de forma a colocar o ex-presidente Lula para fora da arena política nesta eleição”.
“Daqui para frente aquilo que for decido pela cúpula vai atingir a sociedade brasileira como um raio. Até porque parece que há uma apatia da sociedade brasileira em não reconhecer a gravidade da situação institucional”, finalizou.
Da Redação.