Fala Wagnão – Segurança Pública: População autoencarcerada por medo

Wagnão aponta que é preciso um governo que faça o diagnóstico certo para curar essa doença social

Vivemos tempos de autoencarceramento da sociedade das mais variadas formas. O trabalhador busca a sua proteção, as casas estão cheias de grades e há preferência por moradia em condomínio por conta da segurança. Essas medidas paliativas são apenas instrumentos de autodefesa da população que se vê desamparada nesse sentido.

Todo esse medo tem razão de ser, o número de homicídios no país é de quase 64 mil por ano, uma média de mais de 170 mortes por dia. Mas não é só o bandido que mata, quem deveria defender o cidadão também assusta. O Brasil tem a polícia que mais mata no mundo, mas que também, em contrapartida, é a que mais morre exercendo a sua atividade.

As mortes em decorrência de ações da polícia já são a segunda causa de assassinatos no Brasil, acima até dos latrocínios. Os dados estão no relatório elaborado pela Anistia Internacional em 2015. E esses dados pioraram nos dois últimos anos, houve um aumento de 19% entre 2016 e 2017. De 381 policiais mortos em 2017, 91 estavam em serviço.

Claro que sabemos que a situação de trabalho dos policiais no Brasil é das piores. A Polícia Civil, por exemplo, responsável por investigar os crimes, em São Paulo opera com um déficit de 8 mil policiais, segundo o Portal da Transparência, fora outros tantos problemas que sabemos que existem dentro da corporação. Situação essa que tende a piorar, com os investimentos públicos congelados por 20 anos.

Esses números assustadores muitas vezes são mascarados pela historinha de que o brasileiro é um cidadão de paz. Acho que este momento deixa claro que não somos um país de paz, o Brasil é conflituoso. Tudo isso justifica o porquê esse tema é o mais debatido no atual processo eleitoral.

Sobretudo em época de eleição, é preciso que o cidadão tenha claro qual o papel de cada instância de poder, estados, municípios e da união, pois muitas vezes há confusão e a população não sabe de quem cobrar.  Por exemplo: cabe ao governo estadual fazer a vigilância, a repressão e investigação de crimes como roubo e assassinatos, já o combate ao tráfico de drogas internacional e interestadual é uma atribuição do governo federal. Por isso é fundamental ter um governo que articule os programas e ações com as políticas sociais de forma integrada.

Há quem não pense na raiz do problema, na importância do desenvolvimento de programas efetivos de educação, geração de empregos, esporte e lazer. Para esse a solução é o armamento da população, como se o Brasil já não fosse suficientemente armado, como se já não houvesse mortes demais por arma de fogo, e como se o cidadão de bem estivesse preparado para usá-la. É esse o risco que corremos ao errar no diagnóstico e assim errar na receita para curar essa doença endêmica.

Outro grave problema é que o Brasil se tornou uma rota do tráfico de drogas e essas organizações contam com o apoio de autoridades. É uma questão cultural e econômica, e a diminuição do crime se dará por dois caminhos: o combate no alvo do problema e tirar das ruas, aqueles que sem outra alternativa viram mão de obra disponível para ao tráfico, o que aumenta ainda mais em época de crise.

Só vamos de fato ter uma nação melhor estruturada em que as pessoas se sintam seguras para andar nas ruas e criar os seus filhos com um governo que tenha o compromisso em desenvolver políticas sociais, investir na população, e comprometido com a modernização do sistema institucional de segurança.

Da Redação.