24 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás
No dia Mundial de Luta Camponesa, relatório aponta aumento dos conflitos no Campo
Há 24 anos, em 17 de abril de 1996, uma quarta-feira, por volta das 16h, cerca de 1,5 mil pessoas estavam acampadas na curva do S, em Eldorado do Carajás, sudeste do Pará, em forma de protesto. O objetivo era marchar até a capital Belém e conseguir a desapropriação da fazenda Macaxeira, ocupada por 3,5 mil famílias sem-terra.
A caminhada que tinha começado no dia 10 de abril foi interrompida por 155 policiais militares. O ataque deixou 21 camponeses mortos, 19 no local, e outros dois que faleceram no hospital, além de 69 feridos. O fato ficou mundialmente conhecido como o Massacre de Eldorado do Carajás.
Para marcar a data a Via Campesina Internacional instituiu o 17 de abril como o Dia Internacional da Luta Camponesa. No Brasil é o Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária.
Hoje a Comissão Pastoral da Terra divulgou o levantamento anual “Conflitos no Campo Brasil 2019”. A 34ª edição do relatório indica que a quantidade de conflitos rurais no primeiro ano do governo Bolsonaro é a maior dos últimos cinco anos. O Brasil registrou, em 2019, 1.833 conflitos no campo, o número é 23% superior ao de 2018. O dado reúne ocorrências relacionadas a disputas por terra, disputas por água e conflitos trabalhistas.
A maioria desses conflitos ocorre na Amazônia, alvo de garimpos e expansão agropecuária, onde acontecem oito em cada dez assassinatos no país envolvendo conflitos de terra, região onde também se dá maioria das tentativas de assassinato e ameaças de morte. Os números revelam que foram mais de 100 mil famílias atingidas apenas nos estados da Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e parte de Mato Grosso, Tocantins e Maranhão) em 2019. Dessas, mais de 6 mil foram expulsas ou despejadas de suas terras.
O relatório também aponta que, a cada três dias uma mulher sofreu violência em conflitos no campo. Em 2019, o levantamento aponta três assassinatos de mulheres, três tentativas e 47 ameaças de morte.
O diretor executivo do Sindicato Carlos Caramelo presta toda a solidariedade dos Metalúrgicos do ABC aos mortos no Massacre de Eldorado dos Carajás e a todos que lutam incessantemente por direitos. “Fica aqui nossa homenagem aos que morreram lutando por direitos, solidariedade aos familiares que perderam seus entes queridos e indignação diante da impunidade no caso. É importante lembrar que vivemos um momento de ataques a todos os ativistas, às pessoas e instituições que defendem a terra, a democracia, a liberdade de expressão. Por isso, nossa união se faz ainda mais necessária diante desse governo que vai contra tudo isso que sempre defendemos e continuaremos a defender”.
Na contramão
Nesta semana o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, exonerou o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Olivaldi Azevedo. A demissão ocorreu em meio a uma megaoperação em terras indígenas para barrar o garimpo e a chegada do novo coronavírus em três terras indígenas no Pará.
“Essa atitude do governo Bolsonaro, por meio do ministro do meio ambiente, evidencia ainda mais que há uma clara proteção ao garimpo em terra indígenas e indiferença com relação às mortes de indígenas que ocorrerão em função da exploração ilegal”, avaliou Caramelo.