Governo ataca a indústria nacional e aumenta o desmatamento
Sindicato e entidades do campo e da cidade se reúnem para denunciar o acordo Mercosul e União Europeia e os prejuízos à indústria, ao meio ambiente e à sociedade
Para reforçar as ações de denúncia contra tratados entreguistas de livre comércio, principalmente entre os países do Mercosul e da União Europeia, os Metalúrgicos do ABC participaram de uma plenária virtual ontem com diversas entidades do campo e da cidade, ambientalistas, sindicalistas, ativistas dos direitos humanos e sociais.
O diretor administrativo do Sindicato, Wellington Messias Damasceno, destacou a necessidade da ação conjunta para combater esse acordo prejudicial aos trabalhadores e à sociedade.
“É muito importante a articulação das entidades progressistas em defesa da soberania nacional para barrar os prejuízos desse acordo, que entrega de bandeja a indústria brasileira e ataca o meio ambiente”, explicou.
“Não podemos permitir o desmonte do país para garantir o lucro do agronegócio. A nossa defesa é pela garantia do respeito aos direitos trabalhistas, ambientais e humanos, com a melhoria das condições de vida da nossa população”, pontuou.
Indústria e emprego
“A preocupação é que o acordo troca a indústria nacional e faz o Brasil se tornar, de fato, uma grande fazenda do mundo. O processo de desindustrialização que já vivemos aqui se agrava com a falta de visão estratégica do governo para a indústria”, afirmou.
“A reforma Trabalhista já deu mostras de que a situação dos trabalhadores piorou e a Carteira Verde e Amarela quer garantir competitividade com a precarização do trabalho, sangrando os trabalhadores”, prosseguiu.
Outra preocupação é que a decisão das empresas transnacionais fica nas matrizes, que vão priorizar a indústria lá, gerando ainda mais desemprego e fechamento de fábricas nos países do Mercosul. “Com produtos de baixo valor agregado que sobrar para o Brasil, restará aqui uma indústria suja, poluente e insalubre”, alertou.
Além disso, o acordo tende a agravar os fortes ataques ao meio ambiente, aos direitos humanos, comunidades quilombolas, ribeirinhas e indígenas.
“Representa a expansão do desmatamento de áreas para cultivo, abertura de pastos e extração mineral para exportação. Essa ganância de exportar produtos primários pode sacrificar, inclusive, o alimento na mesa do brasileiro, o que já está acontecendo hoje com o arroz”, exemplificou.
Com base no pouco de informação sobre o tratado, o Sindicato se posicionou contra o acordo desde a retomada das negociações, em 2017, por entender que a União Europeia preserva setores estratégicos da indústria enquanto o Brasil abre mão desses setores, como defesa e automotivo. Outra crítica é a falta de transparência e participação da sociedade na discussão de um acordo que afeta todo o país.
Contra o desmatamento
O governo brasileiro comemorou o acordo entreguista e, mesmo assim, não consegue sequer garantir o que firmou no tratado assinado no meio de 2019. Porém, para entrar em vigor, precisa ser aprovado nos parlamentos dos 27 países da União Europeia.
Três parlamentos já aprovaram moções contra a ratificação do acordo, Áustria, Bélgica e Holanda.
Na França, um manifesto de 24 ONGs foi divulgado no fim de agosto contra a validação do acordo, com alegação de que o país não pode ser cúmplice da destruição da floresta. Cobram a responsabilidade da França no desmatamento, já que ocorre devido à soja e a criação de animais para abate comprados pelo país europeu.
O documento mostra ainda a preocupação das entidades progressistas com a violação de direitos trabalhistas, trabalho infantil, trabalho escravo e a retirada de direitos no Brasil.
Oito países europeus divulgaram carta aberta na quarta-feira, dia 16, para protestar contra a política ambiental brasileira. São integrantes da Declaração de Amsterdã a Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Dinamarca, Noruega, Países Baixos e Bélgica.
“Os esforços europeus buscam formar cadeias de produção livres de desmatamento, a atual tendência de desmatamento no Brasil está tornando cada vez mais difícil para que empresas e investidores mantenham seus critérios de sustentabilidade”, afirma o documento.
Além disso, relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) deve propor abertura de inquérito internacional contra o Brasil, com base nas violações ambientais e de direitos humanos. O relatório será entregue ao Conselho de Direitos Humanos da ONU amanhã, quando termina o debate-geral da 75ª sessão da Assembleia Geral.