68% da indústria sofre com falta de matéria-prima
Apesar de o Brasil ser grande produtor mundial de minério de ferro, algodão, arroz, óleo, entre outros, empresas estão exportando enquanto os brasileiros ficam sem esses produtos
Sem política industrial nem política de segurança alimentar por parte do governo, o Brasil, que é grande produtor mundial de aço, algodão, arroz e soja, assiste a falta desses produtos e a alta dos preços.
“A falta de matériaprima no Brasil agrava o processo de desindustrialização que o país vem sofrendo.”
Wellington Messias Damasceno
“A falta de matéria-prima no Brasil agrava o processo de desindustrialização que o país vem sofrendo. O Brasil caminha a passos largos para virar um país apenas produtor de commodities e importador de bens manufaturados”, afirmou o diretor administrativo do Sindicato, Wellington Messias Damasceno.
“O país está batendo recordes de safra de alimentos e na extração de minério de ferro e esses produtos estão em falta aqui. Os produtores primários estão ganhando dinheiro com exportação por conta do dólar alto enquanto a indústria brasileira deixa de produzir por falta destes insumos e a população brasileira sente no bolso o aumento do custo da alimentação”, prosseguiu.
“A diferença é que esses países têm políticas agressivas de Estado para aquisição de produtos para sua produção e industrialização, inclusive voltados à exportação. Já o Brasil enfraquece sua indústria, trabalhadores perdem empregos e renda, com empobrecimento ainda maior das famílias. Assim não teremos condições de comprar os produtos que nós mesmos produzimos”, alertou.
Dificuldades de compra
As dificuldades da falta de matéria-prima foram confirmadas por pesquisas feitas pela própria indústria nacional. De acordo com a sondagem especial da CNI (Confederação Nacional da Indústria), 68% das empresas estão com dificuldades de comprar matéria-prima para retomar a produção. Além disso, 82% perceberam alta nos preços dos insumos, sendo que para 31% o aumento foi acentuado. O levantamento foi feito com 1.855 empresas no país no período de 1 a 14 de outubro.
Estado de SP
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), na pesquisa Pulso Empresa – impacto da Covid-19 nas empresas, mostra que no Estado de São Paulo 51,8% das indústrias tiveram dificuldades de compra de matérias-primas. A pesquisa foi feita com 414 indústrias paulistas dos dias 7 a 13 de outubro. Dessas, 81,4% apontaram aumento nos preços dos insumos.
Entre os motivos da falta de matéria-prima apontados pelo estudo da Fiesp está a forte retomada da economia chinesa, que pressionou o mercado de matérias-primas no mundo. Outro motivo é o câmbio. De janeiro a setembro, a valorização do dólar em relação ao real foi de 30,1%.
Comida na mesa
Além dos impactos na indústria nacional, os brasileiros têm visto o preço dos alimentos aumentarem no mercado.
“O que vem acontecendo na indústria é o mesmo em relação aos produtos básicos da alimentação, entre eles o arroz e o óleo de soja. O Brasil bate recordes nas safras de arroz e soja, mas vende para os mercados chineses e europeus, que estão retomando seu poder de compra e fazendo estoques de alimentos por conta da preocupação com a segunda onda da pandemia”, disse.
“Isso faz com que o Brasil exporte alimentos baratos enquanto os brasileiros sofrem com a alta no preço dos alimentos, tornando cada vez mais escassa a alimentação na mesa dos trabalhadores e aumentando a miséria da população. Tudo é reflexo da falta de uma política estratégica do governo federal, que impacta nos empregos, na indústria, na cesta de alimentos das famílias”, concluiu.