“Essa luta não vai ter fim porque sempre haverá um racista”, afirma Rappin’ Hood

Rappin’ Hood manda seu recado nessa conversa sobre racismo e a luta constante do povo preto

Dia Nacional da Consciência Negra, 20 de novembro, data em que Zumbi, último líder do Quilombo dos Palmares, símbolo do movimento negro e combate à escravidão, foi assassinado em 1695. Para marcar a data, a Tribuna conversou com o rapper e ativista Rappin’ Hood que ainda muito jovem, na escola, escreveu os versos da música ‘Sou Negrão’ que lançaria em 1998 com o grupo Posse Mente Zulu: “20 de novembro temos que repensar/A liberdade do negro, tanto teve de lutar/O negro não é marginal, não é perigo/Negro ser humano, só quer ter amigo”.

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Confira na entrevista o recado de Rappin’ Hood sobre a eterna luta contra o racismo.

Tribuna Metalúrgica – Em 2005, você lançou a música “Us Guereiros”, dedicada ao seu filho, uma criança à época. Um dos versos diz “Um grande guerreiro é aquele que resiste/Que não desiste mesmo na diversidade/Que bate de frente pela sua liberdade. Passados 15 anos, como você vê a situação do negro hoje? Essa luta não terá fim? Ser jovem negro hoje no Brasil é mais fácil ou piorou?

Rappin’ Hood – Continuo vendo da mesma forma como que via quando escrevi a música, essa luta não vai ter fim porque sempre haverá um racista. Meu filho vai lutar, meus netos vão lutar, meus bisnetos vão lutar, meus tataranetos vão lutar, porque sempre haverá um racista, infelizmente. Essa é a verdade, isso é o que se vê todos os dias! Eu não tenho que olhar a molecada e falar que está mais fácil pra eles, nunca foi fácil pro povo preto, as reparações não vieram. Um avanço não tem que ser considerado uma coisa de outro mundo, o povo preto ainda tem que avançar muito mais, não está mais fácil, só mudou um pouquinho.

TM – Vivemos momentos de ataques nesse governo. As pessoas colocadas para comandar as instituições e ministério vão contra aquilo que deveriam defender. Como Sergio Camargo à frente da Fundação Palmares que anunciou a retirada de nomes da lista de personalidades negras como Gilberto Gil, Elza Soares e Martinho da Vila. Como você vê essa situação?

Rappin’ Hood – Essas pessoas que estão lá não me representam, não posso esperar nada deles, engano é esperar alguma coisa de quem não tem compromisso nenhum.

TM – No início deste mês você participou de um ato em frente à Casa do Hip Hop em Diadema que já foi referência neste movimento. Como está a força do Hip Hop hoje na região? Qual a importância desses espaços para a juventude das periferias? 

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Rappin’ Hood –A cidade não tem valorizado o movimento, a Casa do Hip Hop está fechada há 8 anos e a importância dela é gigantesca, era um projeto de ponta em termos mundiais que tínhamos lá há 15 anos e agora não temos mais nada. Mas a força Hip Hop está ótima lá, o Hip Hop sempre foi forte, mas o apoio de quem governa a cidade que está fraco.

TM – Você acredita que o movimento nos EUA “Vidas Negras Importam” que se espalhou para outros países e contribuiu para a derrota de Trump pode ter ecos aqui?

Rappin’ Hood – Essas manifestações tiveram muito eco aqui, mas o que tem que ficar claro é que essas manifestações não são contra um governo específico, são contra todos os racistas, todos eles, sejam do governo ou não.

TM – Pra finalizar, o que temos que reforçar nesse 20 de novembro Dia da Consciência Negra? Ainda falta muita consciência para grande parte da população?

Rappin’ Hood – Tudo o que eu teria pra falar nesse dia eu já falo em uma música que escrevi quando era um garoto, em 1988, para um trabalho de escola, essa música se chama ‘Sou Negrão’, é tudo o que quero dizer sobre 20 de Novembro. Sobre a conscientização, o povo negro já é consciente porque ele sofre todos os dias, sente na pele, a consciência tem que partir de outras pessoas, quem tem que entender e adquirir consciência são os racistas, as pessoas preconceituosas. Viva Zumbi dos Palmares! Viva o Dia Nacional da Consciência Negra! Viva o Hip Hop brasileiro! Viva Afrika Bambaataa! Viva Zulu Nation Brasil! Viva Nelson Triunfo! Viva King Nino Brown! Paz e respeito a todos!

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