“O racismo no Brasil é tão sistêmico quanto a impunidade”
Mesmo diante do assassinato de um homem negro por seguranças em uma loja do Carrefour, governo segue afirmando que racismo não existe no país
O mesmo governo que nega a existência de um vírus letal que já tirou a vida de quase 170 mil brasileiros, também se recusa a enxergar a existência do racismo no Brasil que mata diariamente homens, mulheres e crianças. Bolsonaro e seu vice, Hamilton Mourão, deram declarações públicas negando a existência desse tipo de crime, após o assassinato de João Alberto Silveira Freitas, homem negro espancado até a morte por seguranças em uma loja da rede Carrefour, em Porto Alegre (RS), no último dia 19, véspera do Dia Nacional da Consciência Negra.
Apesar do recorrente negacionismo do governo, o Atlas da Violência 2020 aponta que os casos de homicídio de pessoas negras no país aumentaram em 11,5% em uma década. Outra pesquisa a “Viver em São Paulo: Relações Raciais”, da Rede Nossa São Paulo, aponta que para 83% dos entrevistados a discriminação contra a população negra aumentou também nos últimos dez anos.
“Os números estão aí para certificar, mas o que vemos no dia a dia já é suficiente para afirmarmos que o racismo ainda ocorre de forma escancarada no nosso país. Assim como também é escancarado o racismo por parte de integrantes do próprio governo ao usar termos como “arroba” e “pessoas de cor”.
O assassinato de João Alberto, assim como os da menina Ágatha e do músico Evaldo Rosa dos Santos, baleados pela polícia no Rio de Janeiro, são situações absurdamente estarrecedoras. Não podemos normalizar isso, é preciso que haja uma tomada de consciência urgente da sociedade, uma indignação profunda e coletiva contra esse tipo de situação”, declarou o vice-presidente do Sindicato, Claudionor Vieira do Nascimento.
“O racismo no Brasil é tão sistêmico quanto a impunidade. Se não existisse tanta impunidade para os crimes de racismo, certamente isso já teria diminuído. As punições para esse tipo de crime devem ser severas, só assim é possível dar um basta, cabe à toda a sociedade cobrar justiça”, completou.
O dirigente ressaltou que é imprescindível se colocar no lugar do outro. “O povo brasileiro não pode mais tolerar isso, é preciso que em algum momento as pessoas se coloquem no lugar das vítimas, no lugar do filho, da esposa que perdeu um companheiro, dos pais. É preciso que as pessoas vejam e tratem as outras como seres humanos e quando isso acontecer de fato, certamente teremos uma sociedade mais justa, mais igual sem ódio e sem preconceito. Chega de racismo!”
Carrefour já protagonizou outros casos extremos
Morte ignorada
Em agosto deste ano, um promotor de vendas faleceu enquanto trabalhava em uma unidade, em Recife (PE). O corpo de Moisés Santos foi coberto com guarda-sóis e cercado por caixas, para que a loja seguisse em funcionamento.
Cachorro envenenado e espancado
Em dezembro de 2018, um cão que estava no estacionamento de uma das lojas, em Osasco, morreu após ser envenenado e espancado por um funcionário.
Mais um caso de racismo
Em outubro de 2018, funcionários da empresa, em São Bernardo, agrediram Luís Carlos Gomes, porque ele abriu uma lata de cerveja dentro da loja. Surpreendido pelos funcionários do supermercado, o cliente reiterou que pagaria pelo item.
Demissão como retaliação
Em dezembro de 2017, trabalhadores que reivindicaram benefício de remuneração por trabalho em feriados foram demitidos da empresa, com a justificativa de corte de gastos.
Caso Januário Alves de Santana
Em 2009, seguranças da rede agrediram Januário Alves de Santana, no estacionamento de uma unidade em Osasco. O homem negro teria sido confundido com um ladrão e foi acusado de roubar o próprio carro, um EcoSport.
Estupro
Uma mulher negra presa por suspostamente furtar alimentos em uma filial do Carrefour no Rio de Janeiro, foi espancada e estuprada por funcionários do supermercado, segundo relatado pela juíza Cristina do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, nesta sexta (20). O caso teria acontecido entre 2017 e 2018.