“A Ford está indo embora porque o Brasil não tem uma política econômica eficiente”
Encerramento das atividades da montadora acarretará na perda de milhares de postos de trabalho diretos e indiretos no país e agravará ainda mais a situação já dramática do desemprego. Governo segue sem se importar.
O desemprego no Brasil já atinge mais de 14 milhões de pessoas e para combater esse mal o governo brasileiro parece não ter vacina. A decisão da Ford de deixar o país e fechar as unidades de Taubaté (SP), Camaçari (BA) e Horizonte (CE) pegou de surpresa trabalhadores logo no início do ano e deixou evidente as consequências drásticas da falta de política industrial de Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes.
Somadas as quatro unidades, incluindo São Bernardo, são 7,8 mil demissões diretas. Além desses, cada emprego fechado na Ford trará impactos na cadeia de fornecimento automotiva, assim como nos setores de serviços e comércio.
“É inadmissível essa atitude da Ford depois de ter lucrado tanto no Brasil. Quem construiu a história da Ford no Brasil e no mundo foram os trabalhadores ao longo de todos esses anos, é um desrespeito”, avaliou o diretor do Sindicato e presidente da IndustriALL-Brasil, Aroaldo Oliveira da Silva, que participou de assembleia na unidade de Taubaté no último dia 13.
O dirigente reforçou que a Ford teve subsídio do governo federal, mas a questão chave para deixar o Brasil é outra. “A Ford está indo embora porque o Brasil não tem uma política econômica eficiente. Mesmo antes da pandemia, o PIB já era negativo, a economia já andava pra trás. A falta de uma perspectiva econômica e de uma retomada do mercado automotivo no Brasil influenciou na decisão”, completou.
Aroaldo lembrou ainda o anúncio da Mercedes de fechamento da fábrica em Iracemápolis (SP), em dezembro, pelos mesmos motivos. “A falta de uma política industrial deixa as empresas à vontade para fazerem o que quiserem, já que elas não têm obrigação com a produção nacional”, reforçou.
Outra questão importante apontada pelo dirigente é a falta de visão sobre o futuro do setor automotivo. Segundo ele, a Ford quer trabalhar com eletrificação e conectividade e não encontra respaldo. “As próprias associações de montadoras estão cobrando faz tempo do governo uma posição sobre o futuro do setor automotivo, o que vai ser o próximo período e o governo não reage. Então, na falta dessa perspectiva, as empresas vão se alocando em outros lugares.
Metalúrgicos protestam em Taubaté e aprovam agenda de luta
Os trabalhadores na Ford penduraram os uniformes no alambrado em frente a área da fábrica em Taubaté. O protesto, iniciado ontem, simboliza os empregos e as famílias em risco com o fim das atividades da montadora.
Em assembleia conduzida pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté e Região, eles aprovaram uma agenda de ações para a semana.
Hoje os Sindicatos Metalúrgicos de Taubaté e de Horizonte (CE) estarão reunidos com MPT (Ministério Público do Trabalho). Amanhã será realizada uma audiência pública na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo).
A quinta-feira, 21, será o Dia Nacional de Mobilização pelos trabalhadores na Ford, com manifestações em frente às concessionárias da montadora. Na sexta-feira, 22, está prevista uma nova assembleia com os metalúrgicos da Ford Taubaté.
“Será um processo longo, pois queremos discussões maduras sobre a situação imposta pela montadora norte-americana aos trabalhadores brasileiros”, afirmou Cláudio Batista, o Claudião, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté e Região, lembrando que os trabalhadores têm a seu favor um acordo de estabilidade válido até dezembro de 2021.