Dois anos após crime em Brumadinho, Vale se recusa a pagar indenizações
O rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, que matou 272 pessoas, completa dois anos nesta segunda-feira (25) ainda sem reparação. A mineradora se recusa a pagar a indenização estipulada pelo governo do Estado de Minas Gerais.
Na última semana houve mais uma audiência sobre o principal acordo de reparação, porém terminou sem consenso. A indenização pedida inicialmente pelo Ministério Público de Minas Gerais foi de R$ 54 bilhões, dos quais R$ 28 bilhões seriam destinados a cobrir danos morais sociais e coletivos.
Os R$ 26 bilhões restantes se destinam às perdas econômicas do estado, calculadas pela fundação estatal João Pinheiro. Os valores foram estimados com base no lucro líquido da mineradora no trimestre anterior ao estudo. Caso fosse feito hoje, o montante seria ainda maior.
Para o diretor executivo do Sindicato, Carlos Caramelo, a postura da mineradora demonstra o desrespeito com as vidas, o abandono as famílias afetadas pela tragédia, e a falta de responsabilidade social. “O resumo de todo esse processo é a falta de uma punição exemplar, a impunidade e a tentativa de encobrir o mal que fizeram para essas famílias, ao país e ao meio ambiente. Estão tentando baratear as vidas”, afirmou.
Segundo o dirigente a irresponsabilidade da mineradora com Brumadinho surgiu antes mesmo do rompimento da barragem em 2019.
“A exploração dos trabalhadores e da região fez com que muitas pessoas ficassem reféns desta atividade econômica e também transformou as relações políticas, no qual muitas entidades, órgãos públicos e governos municipal, estadual e federal não realizassem as fiscalizações como deveriam. Todo esse processo acabou se agravando ainda mais com esse governo atual que não tem compromisso com o futuro da sociedade”, alertou.
Há a suspeita de que a Vale tenha interferido na Justiça mineira para forçar um acordo que atenda apenas aos seus interesses. Na semana passada, as vítimas do crime em Brumadinho, que desde o início têm sido excluídos das audiências sobre o acordo, foram surpreendidos com mudanças no Tribunal de Justiça de Minas. O processo que era analisado na primeira instância, na 2ª Vara da Fazenda Pública e Autarquias da Comarca de Belo Horizonte, foi parar no Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC), na segunda instância.
O Movimento dos Atingidos por Barragens avalia que houve interferência para tirar do processo o juiz Elton Pupo Nogueira, responsável pela primeira condenação da Vale em 2019 e que acompanhava de perto toda a questão envolvendo o rompimento da barragem e seus impactos sobre a população e o meio ambiente de Brumadinho.
Com informações da Rede Brasil Atual e Brasil de Fato