Trabalhadores na Arteb cruzam os braços contra demissões

Consultoria contratada pela empresa fala em demissão de metade da fábrica. Sindicato inicia negociações e paralisação segue por tempo indeterminado

Foto: Adonis Guerra

Os trabalhadores na Arteb, em São Bernardo, aprovaram em assembleia na manhã desta terça-feira (26) a paralisação da produção contra as demissões iniciadas na segunda-feira (25). O Sindicato teve uma rodada de negociação com a empresa na tarde de hoje para cobrar informações.

O secretário-geral dos Metalúrgicos do ABC, Moisés Selerges, reforçou que a Arteb precisa agir com transparência e respeito aos trabalhadores.

Foto: Adonis Guerra

“Temos que lutar juntos e buscar soluções possíveis porque a nossa dignidade não é algo que está à venda. Queremos saber quantas são as demissões que começaram a fazer, como vão pagar os trabalhadores, como está a recuperação judicial e qual o futuro da fábrica, ela vai viver ou morrer?”, questionou.

Uma consultoria contratada pela empresa alegou que a fábrica pode rodar com 50% dos cerca de 870 trabalhadores.

Foto: Adonis Guerra

“Uma consultoria que diz que tem que demitir metade da peãozada já começa errado. E se quem está na direção da Arteb seguir essa orientação é porque não conhece a fábrica. Se conhecesse, não falaria uma besteira desse tamanho. A empresa está em recuperação judicial, ela tem que buscar mercado, investir dentro da fábrica para que seus produtos disputem e ganhem mercado”, defendeu.

“Toda demissão é ruim, a pior coisa é perder emprego. Mas, em plena pandemia, com mais de 200 mil mortes e 8 milhões de casos no Brasil, demitir é crueldade”, criticou.

Além disso, a situação ainda inclui a falta de uma política industrial no Brasil.

“O governo não discute a indústria do país, quer só derrubar árvore e plantar soja. As multinacionais vieram para cá no Inovar-Auto, que exigia conteúdo nacional para ser produzido aqui. Agora com essa incompetência que existe no país em relação à política industrial acontece o contrário, a Ford fechou, a Mercedes automóveis fechou, a Audi e a Land Rover estão dizendo que vão fechar”, disse.

O coordenador de São Bernardo, Genildo Dias Pereira, o Gaúcho, destacou que é hora de união dos trabalhadores. “Neste momento em que a empresa faz o anúncio de demissão em massa, a união dos trabalhadores é essencial para pressionar a direção da fábrica a negociar. Sabemos que a empresa atravessa um período difícil, mas os trabalhadores não podem pagar a conta sozinhos. A paralisação foi decretada de imediato para que possamos encontrar saídas”.

Foto: Adonis Guerra

Não somos números

Para o coordenador de área e CSE na Arteb, Sebastião Gomes de Lima, o Tião, o momento exige reflexão e ação. 

“Não sabemos a dimensão do que está para acontecer aqui. Quando essa consultoria vem e diz que a fábrica roda com 50% dos trabalhadores, quer dizer que a cada dois um vai embora. Esse pessoal não tem sentimento, não tem coração, só vê números. Todos aqui conhecem a fábrica, é possível rodar com 50% dos trabalhadores? Não é. O momento de refletir e agir é agora”, chamou.

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