MAB denuncia acordo da Vale para não reparar famílias, dois anos após crime em Brumadinho
O rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, em Minas Gerais, que matou 272 pessoas, completou dois anos no último dia 25 ainda sem reparação para os atingidos. A mineradora se recusa a pagar a indenização inicialmente estipulada pela justiça.
Para marcar a data e cobrar providências, foram realizados atos na cidade onde ocorreu a tragédia, mas também em outros municípios, como Betim e Belo Horizonte. Passados 24 meses, bombeiros militares e operários da mineradora ainda trabalham na busca de 11 vítimas desaparecidas.
Na última semana houve mais uma audiência sobre o principal acordo de reparação, porém terminou sem consenso. A indenização pedida inicialmente pelo Ministério Público de Minas Gerais foi de R$ 54 bilhões, dos quais R$ 28 bilhões seriam destinados a cobrir danos morais sociais e coletivos.
Os R$ 26 bilhões restantes seriam destinados às perdas econômicas do Estado, calculadas pela fundação estatal João Pinheiro. Os valores foram estimados com base no lucro líquido da mineradora no trimestre anterior ao estudo. Caso fosse feito hoje, o montante seria ainda maior.
Em entrevista à TVT, o coordenador estadual do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) em São Paulo, Diego Santiago Ortiz López, denunciou o acordão que a Vale pretende fazer para não arcar com as indenizações.
“Desde o começo a Vale tem atuado no sentido de não reconhecer grande parte das famílias que foram atingidas ou diminuir ao máximo o custo de reparação. Ela quer garantir o lucro dos seus acionistas, em detrimento da vida de todos os atingidos”.
De acordo com o MAB, esse acordão é muito menor do que o previsto nas ações iniciais e as famílias não estão sendo chamadas para participar das negociações. “Hoje a empresa está oferecendo R$ 21 bilhões e grande parte desse dinheiro nem é para reparação. Estamos vendo vários tipos de violações. Muitas famílias que inclusive não foram reconhecidas como vítimas. Em 22 de outubro, o presidente da Vale fez um acordo em segredo entre as partes sem a participação dos atingidos”, completou.
Segundo o Movimento, atingido é todo aquele que de alguma forma foi afetado por um crime, pela construção ou rompimento de uma barragem, seja com perdas materiais ou psicológicas.
Diego lembrou ainda que muitos moradores dependiam da pesca no rio Paraopeba e do abastecimento e ficaram sem a água para seu sustento. Além das comunidades no entorno, indígenas e quilombolas que mantinham uma relação sagrada com o rio.
“Todas essas perdas deveriam ser consideradas, porém a empresa faz de tudo para não custear essa reparação, ao contrário, atua para garantir o dividendo dos acionistas. Coloca o lucro acima da vida da população do rio Paraopeba”.