Pandemia aliada à sobrecarga doméstica tira mais mulheres do mercado de trabalho
O contingente de mulheres fora da força de trabalho aumentou 8,6 milhões, aponta estudo do Dieese. Perdas representam 30 anos de retrocesso
No mês da Mulher, o Dieese divulga estudo sobre os impactos da pandemia no mercado de trabalho para elas. De acordo com o levantamento, entre o 3º trimestre de 2019 e 2020, o contingente de mulheres fora da força de trabalho aumentou 8,6 milhões, a ocupação feminina diminuiu 5,7 milhões e mais 504 mil mulheres passaram a ser desempregadas, segundo os dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios).
A pandemia também trouxe um enorme retrocesso de 30 anos no que diz respeito a mercado de trabalho para mulheres. O percentual de brasileiras que trabalhavam ou buscavam trabalho no segundo trimestre de 2020 (45,8%) caiu ao mesmo nível de 30 anos atrás (45,8%), depois de se manter bem acima de 50% ao longo de todos esses anos.
Boa parte desse contingente, além da crise econômica e do fechamento de postos de trabalho, se deve ao fato de muitas mães terem se visto de uma hora pra outra com os filhos em casa sem ter com quem deixá-los seja para ir ao trabalho ou para dar conta da demanda em home office.
“As desigualdades no Brasil são enormes e a pandemia expôs ainda mais a situação de vulnerabilidade em que muitas mulheres vivem. Mães solos se sentiram desesperadas e desamparadas e boa parte se viu obrigada a abrir mão do emprego por não ter com quem deixar os filhos. Outras, pelo mesmo motivo, foram demitidas. Apesar dos importantes avanços, a situação da mulher no nosso país ainda é muito difícil e precisa de mais amparo por parte do governo, mas não é o que temos percebido no ministério que cuida desse assunto”, destacou a integrante do Coletivo das Metalúrgicas do ABC e CSE na GL, em Diadema, Maria José da Silva Modesto.
O governo Bolsonaro não aderiu a uma declaração feita nesta segunda-feira, no Conselho de Direitos Humanos, por mais de 60 países para marcar o dia internacional das mulheres e assumir compromissos no que se refere à saúde feminina.
Divisão de tarefas
Segundo relatório da McKinsey há um grande descompasso na percepção de mães e de pais sobre o próprio envolvimento e responsabilização por esse trabalho. Enquanto 72% dos pais afirmam dividir com a parceira em pé de igualdade os cuidados com filhos e casa, apenas 44% das mães diziam o mesmo sobre seus companheiros.
A CSE na Marcolar, em Ribeirão Pires, e também integrante do Coletivo, Maria José Pimentel dos Santos, a Masé, reforçou que as atividades domésticas ainda recaem muito mais sobre as mulheres e que é preciso lutar pela divisão de tarefa mais igualitária.
“As mulheres estão sobrecarregadas e isso ficou ainda mais forte nesse período de pandemia. Por mais que os homens também realizem atividades em casa e no cuidado com os filhos, a maioria ainda acredita que essas responsabilidades são das mulheres. Precisamos discutir esse assunto e lutar pela divisão de atividades mais igualitária, do contrário só aumentará o número de mulheres doentes, física e mentalmente”.
Dia de luta
O 8 de Março iniciou com atos de mulheres em diversas cidades por vacina contra a covid-19 e renda básica, por meio do auxílio emergencial. Pelo Brasil, trabalhadoras protestaram também contra a fome e em defesa de moradia. As manifestações respeitaram protocolos de saúde e não promoveram aglomerações.