Metalúrgicos do Brasil e dos Estados Unidos debatem Indústria 4.0

Os Metalúrgicos do ABC e o UAW (United Auto Workers – o sindicato dos trabalhadores na indústria automotiva, aeroespacial e de implementos agrícolas) organizaram online o 1º Encontro da Indústria 4.0 – Metalúrgicos do Brasil e dos Estados Unidos.

Na abertura da atividade ontem, o presidente do Sindicato, Wagner Santana, o Wagnão, criticou a falta de uma política nacional para a indústria.

“Temos a obrigação de discutir os temas que irão definir o futuro da indústria no país, da produção nacional e dos empregos. Não existe indústria competitiva sem o Estado sendo incentivador e protagonista. Infelizmente, estamos assistindo o inverso, a inação e a inoperância do governo com a indústria nacional. Sem indústria forte não há empregos de qualidade’, afirmou.

O presidente da CUT, Sérgio Nobre, além de reforçar que a Indústria 4.0 é tema prioritário da Central, também ressaltou o pedido de solidariedade no combate à pandemia.

“O Brasil vive tamanha tragédia, temos cerca de 3% da população mundial e 30% das mortes pela Covid-19. Fazemos um apelo aos países para que ajudem não só pela questão humanitária, mas para evitar mutação do vírus e que se espalhe ainda mais pelo mundo”, destacou.

Indústria 4.0

O primeiro painel tratou sobre a situação tecnológica dos dois países, as mudanças na indústria e seus efeitos.

O integrante do departamento de pesquisa do UAW, Jason Wade, falou sobre o processo mais conectado e automatizado e o avanço dos veículos elétricos.

“Os elétricos têm menor complexidade de fabricação, com redução de 30% no número de horas por unidade. Os Estados Unidos estão atrás da China e da União Europeia no desenvolvimento da cadeia produtiva, é um desafio”, disse.

Impactos e empregos

O diretor administrativo dos Metalúrgicos do ABC, Wellington Messias Damasceno, destacou a importância do intercâmbio entre os países, já que os desafios estão colocados aos sindicatos para essa nova realidade.

“Não é só do ponto de vista industrial, mas é uma revolução em todos os setores da sociedade. O Brasil tem sofrido um processo de desindustrialização extremamente acelerado. Não há compensação dos setores de serviços e comércio, que são empregos com salários mais baixos e de pouco valor agregado”, explicou

“O movimento sindical precisa compreender as mudanças em curso e entrar, de fato, na discussão de onde estarão os novos empregos. É preciso tratar de uma transição justa, com prazos para negociações coletivas e com capacitação profissional para as novas tecnologias.”

A professora da UFABC (Universidade Federal do ABC), Anapatrícia Morales Vilha, destacou os impactos nos empregos em países com baixo dinamismo tecnológico e inovativo, como o Brasil.

“É preciso ampliar a agenda de políticas públicas para reduzir os efeitos nos níveis e na qualidade dos empregos, com uma combinação eficiente de políticas industrial, tecnológica, científica e educacional para dar esse salto e tentar acompanhar o movimento que vem com força”, defendeu.

Home office

O segundo painel foi sobre o teletrabalho/home office e as ações sindicais. Adriana Marcolino, do Dieese, tratou das mudanças aceleradas na dinâmica das famílias, impactos negativos no nível de emprego e renda e novos modos de organização do trabalho, muitas vezes sem a devida proteção trabalhista.

Loricardo de Oliveira, da CNM/CUT (Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT) reforçou o desafio das entidades sindicais. “É fundamental fomentar essa aproximação e se comunicar com as pessoas em trabalho remoto em uma oportunidade grande de aproximação.”

As discussões continuam hoje sobre acordos coletivos, iniciativas na Indústria 4.0 e estratégias para o futuro.