Para desviar foco da CPI da Pandemia, Bolsonaro conspira contra STF

Em conversa com senador Jorge Kajuru, presidente prega a inclusão de governadores e prefeitos na CPI da Pandemia e pressiona pela instauração de procedimentos de impeachment de ministros do STF

Foto: Divulgação

Enquanto o Brasil registrava o pior domingo desde o início da pandemia, o presidente Jair Bolsonaro pensava em fazer “do limão uma limonada”. Em conversa com o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO), divulgada pelo próprio parlamentar, Bolsonaro foi flagrado pressionando pela abertura de processos de impeachment contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Trata-se de uma retaliação à decisão do ministro Luís Roberto Barroso, que obrigou o Senado a instalar a CPI da Pandemia.

Para tentar desviar o foco da sua gestão diante da pandemia, Bolsonaro e senadores aliados também tramam ampliar o escopo da comissão, investigando também os governos estaduais e municipais.

“Se não mudar a amplitude, a CPI vai simplesmente ouvir o Pazuello, ouvir gente nossa, para fazer um relatório sacana. Por enquanto, é um limão que tá aí. Dá para ser uma limonada”, disse Bolsonaro, pressionando Kajuru a “espremer” os ministros da Suprema Corte.

“Você tem de fazer do limão uma limonada. Tem de peticionar o Supremo para colocar em pauta o impeachment (de ministros) também”, acrescentou. Kajuru responde que já entrou com pedido de afastamento do ministro Alexandre de Morais. Também disse que ele e outros senadores pretendem investigar prefeitos e governadores. Avisado pelo senador que a conversa seria divulgada, Bolsonaro consentiu: “Tudo bem, tudo o que falei está falado”, afirmou.

Na manhã desta segunda-feira (12), “Kajuru” e CPI da Covid” apareciam entre os termos mais citados do Twitter, somando juntas mais de 100 mil menções.

Também vale destacar que o próprio senador Kajuru foi um dos signatários da ação no STF pleiteando a instalação da CPI. O motivo foi o fato de a criação da comissão não ter sido determinada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), apesar de contar com assinaturas de 32 senador, superando o mínimo necessário de um terço.

Reações

Apesar da ofensiva do Palácio do Planalto, a CPI da Pandemia deve ser instalada oficialmente nesta terça-feira (13). No dia seguinte, o próprio plenário do STF deve referendar a decisão de Barroso. O clima, que já não era favorável ao presidente, piorou, depois do recente ataque aos ministros.

Além do provável revés na Suprema Corte, Bolsonaro corre o risco de ver a CPI da Pandemia ser estendida também à Câmara dos Deputados. Por outro lado, juristas e parlamentares afirmam que a pressão para a derrubada dos ministros do STF configura mais um crime de responsabilidade, o que deve garantir mais um pedido de impeachment contra Bolsonaro, que já somam mais de 100.

‘Conspiração’

“Parece evidente que há uma grave conspiração contra o livre exercício do Poder Judiciário”, afirmou o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que pede investigação por crime de responsabilidade, após Bolsonaro ser flagrado conspirando pela derrubada dos ministros do Supremo. “Impossível imaginar algo mais grave, se confirmado que a conversa é mesmo entre um senador da República e o presidente da República”, acrescentou.

De acordo com o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que é o primeiro proponente da CPI da Pandemia, além de conspirar contra o STF, Bolsonaro atenta contra os demais poderes da República.

A deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidenta da legenda, classificou a conversa entre Bolsonaro e Kajuru como “escandalosa”. Para ela, a ofensiva contra governadores e prefeitos e os ataques ao STF servem para tentar “salvar a pele” do governo Bolsonaro.

“Temos de denunciar essa manobra”, tuitou a parlamentar, com a hashtag #ImpeachmentJá.

Da mesma forma, o deputado José Guimarães (PT-CE) afirmou se tratar de “um escândalo político sem precedentes”. “Uma conspiração, uma verdadeira trama contra as instituições democráticas. Precisamos abrir o processo de impeachment de Bolsonaro. Não podemos mais aceitar, BASTA!”, afirmou, pelas redes sociais.

Da Rede Brasil Atual