Lula visita a Uniforja e conversa com trabalhadores sobre desafios
“O trabalhador não precisa de esmola, precisa de oportunidade para provar que este país pode ser uma grande nação”.
O presidente Lula visitou na manhã de ontem, acompanhado de dirigentes do Sindicato, a Uniforja, em Diadema. A empresa é uma cooperativa metalúrgica gerida pelos trabalhadores há mais de 21 anos. Lula conheceu as instalações atuais da fábrica e conversou com os trabalhadores sobre desafios do desenvolvimento industrial.
Lula lembrou que acompanha as lutas dos companheiros e das companheiras desde o começo dos anos 1970, quando a empresa ainda era Conforja e tinha 3 mil trabalhadores.
“Lembro do fechamento da Conforja, das brigas na justiça, e lembro de um grupo de heróis que resolveu trocar sua indenização pelo direito de assumir a responsabilidade de provar que a classe trabalhadora tinha capacidade de tocar uma empresa. Depois vim como presidente do Sindicato para conhecer a primeira experiência de uma cooperativa nesse sentido”.
“Era um momento em que vocês tinham muitas incertezas. Nem tudo estava muito claro para todos os companheiros, porque quando o processo é novo, sempre há muita desconfiança, mas vocês passaram por isso e resistiram”.
Durante o primeiro mandato de Lula como presidente, a Uniforja conseguiu um empréstimo do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que foi fundamental para a continuidade das atividades. Na ocasião, o cheque foi levado pelo próprio presidente aos trabalhadores.
“Não foi nenhum favor que fiz de pedir para o BNDES emprestar dinheiro pra vocês, porque o BNDES empresta muito dinheiro pra muita gente que não vale um dedo da mão de vocês e muitas vezes nem recebe. Vocês pagaram a dívida que contraíram porque essa é a marca do povo trabalhador brasileiro. Fico muito orgulhoso de ver que vocês pagaram os dois empréstimos que pegaram com o BNDES”, destacou.
“Se a gente tivesse um governo decente, vocês precisariam de mais dinheiro porque precisam renovar muitas máquinas. Essas máquinas podem ser boas, mas começam a se tornar deficitárias. É preciso ter dinheiro para modernizar e ser mais competitivo no mercado. Minha tristeza não é só porque o BNDES virou as costas para a sociedade brasileira, mas porque virou as costas para o desenvolvimento industrial”, destacou.
Desmonte da Petrobras
Lula falou sobre a tristeza de ver o maior setor da Uniforja, que prestava serviço para a Petrobras, desativado.
“A Petrobras está sendo desmontada desde que saímos do governo. Eles decidiram que a Petrobras tem que ser vendida. Vendida pra que? São empresas do porte da Petrobras que nos dão o orgulho de ser um país soberano. Um país que era autossuficiente em gasolina, que poderia ser exportador e agora está comprando óleo diesel e gasolina dos Estados Unidos”, disse.
“E me dá mais tristeza ainda saber que a peça que vocês vendiam pra Petrobras, um diretor lá resolveu que o que importa é comprar mais barato, se vai ter desemprego na Uniforja, trabalhador passando fome, não importa. Só que esse barato está gerando pobreza aqui. Eles têm que levar em conta o emprego, a qualidade de vida do povo trabalhador”, defendeu.
“Quando eu era presidente, a Petrobras também dizia que comprar aqui ficava mais caro e eu dizia ‘fica mais caro, mas gera emprego, salário, imposto, decência e soberania neste país’. Não é o Brasil que é da Petrobras, a Petrobras que é do Brasil”.
“Embora eu não seja presidente da República, tenho que ajudar vocês a continuar existindo, crescendo, melhorar a competitividade. Quero estar junto para que a gente consiga fazer a Uniforja ser a realização de um sonho. O trabalhador não precisa de esmola, precisa de oportunidade para provar que este país pode ser uma grande nação”.
Esperança
O presidente do Sindicato, Wagner Santana, o Wagnão, destacou o objetivo da visita e falou em esperança.
“O propósito desta visita é reafirmar nossa aliança entre Sindicato e Uniforja, reafirmar nosso comprometimento de irmão com cada trabalhador aqui que ao longo desses 21 anos deram exemplo de que é possível a gente pegar a empresa que o patrão abandonou e conseguir fazer a gestão”.
“Mesmo com todas as dificuldades que vocês passaram no início, lutaram bravamente para que a gente pudesse estar aqui duas décadas depois apontando para o futuro e a cada dia acendendo uma chama de esperança. Essa esperança tem que contaminar o Brasil. Vocês são exemplo de que os trabalhadores sabem fazer gestão”, reforçou.
Autogestão
O coordenador da Regional Diadema, Antônio Claudiano da Silva, o Da Lua, destacou também a importância do Sindicato no processo de autogestão.
“Quando a gente olha a experiência vivida pelos trabalhadores, sabe da dificuldade e da importância que teve a participação do Sindicato no convencimento dos trabalhadores que não acreditavam que seria possível a autogestão. Os trabalhadores comprovaram que conseguem gerir um negócio”.
“Hoje temos a dificuldade da falta de políticas do governo para indústria, no sentido de ter linhas de crédito para que possa investir, se modernizar, gerar mais emprego e distribuir renda. A visita do presidente Lula neste momento traz esperança aos trabalhadores”, completou.