Recuperação em falso

Muitos dos leitores desta coluna certamente se lembram de uma das muitas promessas do ‘posto Ipiranga’, vulgo Paulo Guedes, logo no início dos graves efeitos da pandemia sobre a economia brasileira, que se juntam aos 470 mil mortos em pouco mais de um ano. Teríamos uma recuperação em V, com forte queda seguida por forte retomada. Mas no lugar do V temos um F, a falsa retomada.

Foto: Divulgação

No meio da semana que passou, foi divulgado o resultado do PIB para o 1º trimestre, com crescimento de 1,2% em relação ao trimestre anterior. O resultado foi saudado em prosa e verso, pelo desgoverno federal, boa parte da mídia, o famigerado “mercado” etc. O que pouco se disse foi sobre a qualidade dessa informação, ou a ausência de qualidade na suposta recuperação.

O diabo está nos detalhes, diz o ditado, e os detalhes não são bons. O resultado positivo se deveu ao movimento de recomposição de estoques e de elevado nível de importações, enquanto o consumo e a atividade seguem em queda. O consumo das famílias e do próprio governo foi negativo, e sem o efeito estoque o resultado seria uma queda do PIB em torno de 1,6%.

O processo também se mostra desigual, com a indústria e os serviços praticamente estagnados (+0,7% e +0,4% respectivamente) perante uma atividade agrícola que contribuiu muito fortemente para o resultado, com expansão de 5,7%.

A suposta retomada se mostra insustentável. A pandemia segue descontrolada diante da omissão federal; a vacinação tem ritmo muito abaixo do necessário para permitir o retorno do consumo das famílias; o desemprego e a informalidade cresceram ainda mais no período recente. Por fim, a incerteza no fornecimento de insumos industriais e o fantasma da crise energética serão barreiras expressivas para uma verdadeira retomada. Sem governo, e sem planejamento, o cenário infelizmente segue pessimista.

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