“A democracia é o lugar do debate de ideias”, afirma Jean Wyllys

Em conversa com o presidente dos Metalúrgicos do ABC, o ex-parlamentar Jean Wyllys destacou como as redes sociais foram tomadas pela extrema direita para destilar ódio e desinformação

Desinformação, fake news e ódio nas redes sociais foi o tema da conversa entre o presidente do Sindicato, Wagner Santana, o Wagnão, e o ex-deputado federal, Jean Wyllys, na live transmitida pelas redes sociais do Sindicato e da TVT na terça-feira, dia 6.

Jean, que vive na Espanha, teve que abrir mão do seu terceiro mandato e deixar o Brasil em 2019 porque vinha sofrendo intensas ameaças de morte pelo seu posicionamento político. Hoje ele se dedica à carreira acadêmica e sua tese de doutorado em andamento trata justamente do fenômeno da desinformação na relação entre fake news e discursos de ódio.

Confira os principais pontos do debate. A íntegra está disponível no vídeo no fim da matéria.  

Pandemia e desinformação

O ex-deputado iniciou sua argumentação citando a má gestão da pandemia e a forma como ela foi instrumentalizada pelo governo Bolsonaro com base na desinformação.

“O governo não só decidiu deliberadamente apostar na imunidade de rebanho, o que já seria uma aposta terrível, como também, conforme a CPI vem mostrando de maneira mais clara, sabotou as medidas sanitárias e produziu desinformação em relação à Covid-19. Quando falamos em genocídio, temos que pensar em toda a desinformação programada e perpetrada pelo governo”.

Discurso de ódio

Questionado por Wagnão, Jean também lembrou as ameaças sofridas que o fizeram deixar o mandato e o Brasil.

“Não havia escolha para mim, estava sob ameaça, eu e minha família. As ameaças contra mim são muito anteriores ao assassinato de Marielle. Fiz 17 denúncias à Polícia Federal. A minha única possibilidade de continuar vivo e atuando era o exílio”.

Jean lembrou das duas grandes mentiras que ajudaram Bolsonaro a se eleger, a mamadeira de piroca e o kit gay e destacou que o ódio foi fundamental para levar Bolsonaro ao poder.

Poder da comunicação

O ex-parlamentar fez críticas à esquerda, tanto em relação à falta de defesa no seu caso, à dificuldade de se posicionar diante de assuntos que tratam de questões de gênero e por não dar a atenção necessária aos novos meios de comunicação, deixando que eles fossem ocupados pela extrema direita.

“Quem acabou vendo essa tecnologia como potente foram os grupos de extrema direita, financiados por quem, ainda estamos por descobrir. Articulados, deram o golpe de 2016, o que não aconteceria sem esse trabalho de desinformação nas mídias sociais”. 

Cada um na sua bolha

Como acadêmico, Jean fez uma detalhada explicação sobre como a internet permite hoje identificar o padrão de consumo das pessoas para oferecer produtos, mas não só, também informações que se ajustem à forma de pensar.

“Essa inteligência entende politicamente quem você é e começa a lhe oferecer perfis parecidos te prendendo numa bolha”.

Ainda segundo ele, o software também encontra uma área em que as pessoas não se identificam nem com a direita e nem com a esquerda e é nesses perfis que o ódio é estimulado. E deu um exemplo:

“Uma das maneiras que a extrema direita encontrou foi criar perfis sobre animais, um belo dia esse perfil começa a publicar fake news, as pessoas que estão ali já são uma comunidade de afeto, é difícil contestar, então essas publicações são tomadas de imediato como verdadeiras”.

Confirmar preconceitos

Jean reforçou que essas mentiras servem para confirmar preconceitos. “As pessoas não se sentem constrangidas de expressar opinião na internet porque estão cada vez mais fortalecidas com quem pensa como ela, portanto, fortalecendo visões de mundo iguais”.

Wagnão perguntou como se proteger disso sem haver censura.

“Existe um mundo que está em ruínas e um em construção, esse em construção está pensando formas de recompor o que chamamos mundo comum e no mundo comum as pessoas tem que ter responsabilidade pelos seus atos”.

“A democracia é o lugar do debate de ideias, debater não é a mesma coisa que impor direitos ou modos de vida e um debate de ideias se faz com argumentos. A extrema direita não debate argumentos, ela ataca e desqualifica pessoas com mentiras porque não tem argumentos”.

Confira a íntegra do bate-papo no vídeo abaixo: