Privatização do Porto de Santos trará desemprego, problemas ambientais e desestímulo à indústria paulista

Alteração que prevê escoamento de 80% de produtos agrícolas e fertilizantes está na pauta do Congresso. Sindicato da categoria alerta para necessidade de luta

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A privatização da administração do Porto de Santos, anunciada pelo ministro da Economia Paulo Guedes no início do governo Bolsonaro, voltou à pauta com votação prevista para o começo do segundo semestre deste ano. O Settaport (Sindicato dos Empregados Terrestres em Transportes Aquaviários e Operadores Portuários do Estado de São Paulo) alerta para os principais problemas decorrentes da privatização como desemprego, perigos ambientais e desestímulo à indústria metropolitana.

Na última terça-feira, 27, diretores dos Metalúrgicos do ABC estiveram no Porto com o presidente do Settaport, Chico Nogueira da Silva, para entender melhor os desdobramentos da medida.

“Estão alterando a função do Porto para que se transforme majoritariamente em escoamento grãos. Além disso, querem inserir grandes galpões de fertilizantes, diminuir o recebimento e a comercialização dos contêineres e veículos, isso afeta fortemente a indústria, principalmente no eixo da região metropolitana”, destacou o diretor executivo do Sindicato, presidente da IndustriALL-Brasil e da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, Aroaldo Oliveira da Silva.

O dirigente acrescentou que as mudanças prejudicam o Estado de São Paulo como um todo. 

“A diminuição do espaço para movimentação de contêineres e veículos vai forçar a indústria paulista a fazer uso de outros portos, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraná e Santa Catarina. Isso elevará o custo de escoamento por questões de logística e desembaraço alfandegário, o que aumentará ainda mais a desindustrialização no Estado. Qual o sentido de uma empresa estar aqui se vai usar o porto do Espírito Santo?”.

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Sem diálogo

O presidente do Settaport, Chico Nogueira da Silva, lembrou que historicamente sempre houve diálogo com os governos anteriores, sobretudo com Lula e Dilma, para as transformações no Porto, mas que o governo Bolsonaro em nenhum momento consultou a sociedade civil.

“Todo o estudo de viabilidade, plano de desenvolvimento precisa ter uma participação efetiva da sociedade com audiências públicas, está na lei. Mas o governo Bolsonaro atropelou e criou a portaria com um plano de desenvolvimento que deixa o Porto de Santos, que sempre foi muito pujante na área industrial, vocacionado quase que 80% para o agronegócio”, detalhou.

Ataque ambiental

Outro grave problema nesse projeto é o aumento da movimentação de fertilizantes no Porto que prevê o escoamento de até 12 milhões de toneladas por ano de nitrato de amônia.

“Hoje os fertilizantes têm movimentação em pequenos terminais, em pequenas quantidades e esse plano novo prevê um mega terminal com concentração de carga em uma região muito próxima da área urbana. Isso gera preocupação enorme porque nitrato de amônia foi o que deu origem à explosão em Beirute (Líbano), onde se fala em movimentação de três mil toneladas”.

Além desse perigo iminente, também há a possibilidade da instalação do que os moradores têm chamado de “navio bomba”. Segundo o presidente, o plano também prevê um navio da Comgás atracado que vai importar gás através de uma plataforma no meio do canal da cidade.

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Privatização da administração

O Porto de Santos já tem suas operações privadas desde 1992. O que o governo quer privatizar agora é a administração.

“É como se o Porto fosse um shopping, o dono do shopping é o Estado que aluga as lojas. O Estado regula as taxas, mas com a privatização da administração a empresa vencedora pode colocar a carga que quiser, só de soja e milho, por exemplo”, explicou.

Desemprego

Com o fechamento de dois terminais de contêineres, segundo o dirigente, haverá diminuição de empregos.

“Isso nos preocupa porque aqui em Santos praticamente o emprego de caminhoneiro vai acabar, as cargas de maior valor agregado que atendem a indústria e geram muita mão de obra vão diminuir. Isso não atinge só a Baixada Santista, o Porto de Santos vai virar posto de atendimento do agronegócio e vai inviabilizar a indústria paulista de importar peças e produtos. Por tudo isso, estamos em luta contra essa privatização”, concluiu.