“Há uma ditadura da felicidade, que gera o inverso: aumento da depressão e da ansiedade”

Na era das redes sociais, da supervalorização da imagem, onde a maioria se mostra feliz e bem-sucedida, a depressão e a ansiedade aumentam e fazem crescer ainda mais as taxas de suicídio no Brasil e no mundo.

Neste 10 de setembro, Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, o psicólogo e psicanalista, especialista em Saúde Mental, Odonel Ferrari Serrano, traz reflexões importantes sobre o tema.

No Brasil, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), cerca de 12 mil pessoas tiram a própria vida por ano. No mundo, são cerca de 800 mil suicídios anuais. O Brasil só perde para os Estados Unidos. No mundo, as notificações apontam para um suicídio a cada 40 segundos. No Brasil, a cada 46 minutos.  De acordo com dados do Ministério da Saúde avaliados nos últimos quatro anos, a maioria das pessoas que comentem suicídio no Brasil são homens, negros, com idade entre 10 e 29 anos. 

Ditadura da felicidade

Para o especialista, existe hoje uma exigência para que todos sejam felizes o tempo todo, impulsionada pelas redes sociais, o que acaba gerando uma reação inversa. “Na sociedade de hoje qual o produto mais vendido pelo capitalismo? Não é celular, não é carro, é a felicidade. Há quase que uma ditadura da felicidade, uma exigência de que todo mundo tem que ser feliz, mas o que ocorre é o inverso, um grande aumento da depressão e da ansiedade. A ansiedade está diretamente ligada à tentativa de seguir o ritmo dessa vida, extremamente intenso e rápido, que exige eficiência e eficácia. Já a depressão, a ter desistido de lutar porque essa forma de vida perdeu o sentido”.

Relações pessoais

Outro ponto relevante apontado pelo psicanalista é a qualidade das relações, sejam elas familiares, amorosas, de trabalho. “Como está a qualidade das nossas relações pessoais? Ter relações de boa qualidade é um grande remédio contra a depressão”.

Retrocessos

“Temos sofrido grandes retrocessos no Brasil que impactam na forma de vida, a queda de rendimentos, a precarização do trabalho, o aumento do desemprego, do preconceito de cor, formas de gênero e sexualidade.  Quando vivemos numa sociedade com retrocessos como querer que uma criança com deficiência volte a ser isolada em escolas só para deficientes, isso tem um impacto muito grande na saúde mental”.

Socialização e o papel da escola

Odonel aponta como o fato das pessoas, principalmente as crianças, estarem cada vez mais presas em casa contribui para esses transtornos. “Hoje os pais têm medos de deixar as crianças mais soltas como acontecia antigamente. O espaço da escola, tão importante para o convívio social, muitas vezes ajuda a reproduzir o bullying e a violência.  É preciso investir na escola para este novo momento. Antes o que se exigia era passar conteúdo, hoje é preciso mediar conflitos, ajudar na interação social e falar sobre as diferentes formas de viver e existir. Cada vez mais esse sujeito, principalmente o jovem, lida com uma expectativa muito alta de que tem que ser feliz e se dar bem na vida. Por outro, ele tem cada vez menos espaço para ser aceito na forma de vida que escolheu”. 

Procure ajuda

Por fim, o médico orienta a procurar ajuda ao perceber sinais de isolamento, tristeza, automutilação e não menosprezar os sentimentos.

O CVV (Centro de Valorização da Vida) realiza apoio emocional e prevenção do suicídio gratuito. Ligue 188