Dois dígitos

Na última vez em que tivemos uma campanha salarial com a inflação acima de dois dígitos estávamos em 2003, e naquela ocasião o INPC acumulado em doze meses somou 17,52%. Quase vinte anos depois temos um índice que rompe essa barreira e chega a 10,42%.

Foto: Divulgação

Nos períodos de inflação mais elevada o tom tende a se elevar e os grupos patronais tentam a todo custo justificar as dificuldades para um reajuste adequado. Historicamente a forte organização desta categoria tem garantido acordos com reposição da inflação e aumentos reais.

A correção anual do salário tem como função garantir o poder de compra dos salários e é um direito do trabalhador. Contudo, mesmo com acordos que garantem a reposição salarial, ao longo dos anos as empresas fazem uso de mecanismos de ajustes que dissolvem os salários, como os contratos intermitentes e a rotatividade que troca salários maiores pelos salários de entrada é um padrão.

Em 2006 a remuneração do setor de autopeças com valores atualizados, por exemplo era de R$ 2.681,64, e no ano passado a remuneração média foi de R$ 2.910,15, ou seja, o poder de compra cresceu apenas 8,5%, índice distante dos 23,87% de aumento real conquistados nas negociações de data-base no mesmo período.

O dado acima ilustra bem o tamanho dos nossos desafios, os custos das crises econômicas vêm sendo pagas ano a ano pelos trabalhadores. Neste último ano em especial, colocando suas vidas em risco no dia a dia da fábrica, vendo de forma mais agressiva os seus salários serem corroídos pela disparada dos preços.

É neste cenário que a Campanha Salarial se coloca como o momento do acerto de contas entre as partes. A reposição da inflação com aumento real precisa ser enxergada como uma devolução deste direito que vem com pelo menos doze meses de atraso.

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